Uma das tendências alavancadas pela pandemia, como muitos já sabem por ouvir falar ou vivenciar no próprio dia a dia, é o home office.
Quer tenham experimentado a primeira vez neste ano, quer sejam early adopters, autônomos, ou trabalhem em empresas que utilizam o modelo híbrido, ou estrutura descentralizada, ou também aqueles que fizeram uma experiência temporária durante esta pandemia que estamos atravessando, boa parte dos trabalhadores de funções que permitem essa mobilidade tiveram alguma experiência de trabalhar em casa neste ano.
Esse movimento se reflete nos mais variados setores de consumo – de construção e home decor à alimentação, com impactos positivos e negativos dependendo do nicho de atuação. A razão é simples e intuitiva: o funcionário, que antes estava fora de casa durante a maior parte do seu dia, agora está em casa, e não bastasse isso, com atividades que exigem novas funcionalidades.
A pergunta que temos feito é: com o arrefecimento da pandemia que – assim esperamos – está por chegar nos próximos meses, qual será o comportamento das empresas e funcionários? Adotarão o modelo híbrido ou descentralizado em definitivo? Ou retornarão, ao menos em parte, para os modelos tradicionais?
Pelo que temos visto até agora, as duas respostas estão corretas. Um estudo realizado pela Mosaiclab, em parceria com a Toluna, em agosto/2020 no Brasil revela que 71% dos entrevistados acreditam que nos próximos 5 a 10 anos uma das grandes mudanças do mercado de trabalho será maior presença de home office¹. Mais ainda, 45% destes acreditam que a mudança está mais próxima, e estará presente nas suas vidas desde já ou após a pandemia.
Para o segmento de alimentação fora do lar, o desafio é complexo: uma ocasião de consumo que antes era majoritariamente realizada fora de casa – como o almoço em dias úteis, por exemplo – passa a ter contextos mais variados e mais dispersos: 46% do almoço em dias úteis agora é feito a partir de casa, contra 44% do trabalho e 10% de outras atividades.
Em termos de volume, a ocasião de almoço em dias úteis no contexto do ambiente de trabalho caiu -60%, saindo de um tráfego de 1,3 bilhões no terceiro trimestre de 2019 para 0,5 bilhões no mesmo período de 2020. Já o almoço em dias úteis, considerando apenas os realizados dentro de casa – isto é, sem a ida ao estabelecimento, crescem 30% no trimestre, enquanto a maior parte das ocasiões ainda estão em recessão.
Os restaurantes de serviço completo são os mais impactados – com destaque para o quilo, que perdeu 99% das transações no segundo semestre, com leve recuperação no terceiro – mas que ainda com impacto representativo: -80% transações quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Quem ganha destaque positivo nesse contexto são estabelecimentos de ticket econômico, mas com pratos completos, como redes de empratados e independentes com pratos e lanches, que são mais acessados neste momento do dia – mas ainda em menor volume total do que nos anos anteriores.
Vemos, portanto, que o home office é uma tendência que vai se prolongar no curto e longo prazo, mas não exclusivamente. O operador e a indústria do setor devem se preparar para atender a esta demanda que é cada vez mais plural e menos padronizada, refletindo movimentos que já vinham acontecendo há anos, mas que se intensificam nesse momento, e prometem perdurar.
Vólia Simões é gerente de Inteligência de Mercado
e especialista em pesquisa e insights para o Varejo e
Foodservice da Mosaiclab, área de inteligência da Gouvêa Ecosystem
¹ Fonte: Pesquisa Mosaiclab em parceria com Toluna, com 1095 brasileiros, realizada em agosto para o Global Retail Show – um evento Gouvêa Experience. Para dúvidas ou mais detalhes da metodologia, entre em contato no e-mail: info@mosaiclab.com.br
² Fonte: Estudo contínuo CREST® com consumidores de refeições preparadas fora do lar, com metodologia internacional conduzido no Brasil pela Mosaiclab
Para dúvidas ou mais detalhes dos estudos, entre em contato no e-mail: info@mosaiclab.com.br
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