O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida segundo a coordenadora de Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI) Brasil, Viviane Romeiro. Em entrevista à Agência Brasil em 2016, a pesquisadora diz que 41 mil toneladas de alimentos perdidos desde a fase de produção até a casa do consumidor final levaram os Brasileiros ao vergonhoso ranking mundial do desperdício de alimentos. É fato que estamos falando de um país que é também um dos maiores produtores de alimento do mundo, e que isso deve elevar os números de perdas naturalmente, mas é preciso refletir sobre as causa deste desperdício, pois afinal de contas, com todo esse alimento que acaba no lixo, mas que poderia ter totais condições de consumo, seria possível reduzir significativamente as estáticas da fome e desnutrição mundial.
Mas como é que todo esse alimento vai parar no lixo? Estamos falando aqui de um grande ciclo de descasos e omissões ao qual todos fazem parte. Em um país continente como o Brasil, a logística de transporte e escoamento de produtos acaba se tornando muitas vezes difícil, falta muito investimento público em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos para garantir que estes produtos perecíveis possam ser transportados com eficiência. Investimentos em câmeras frias e tecnologia de embalagem e armazenamentos destes produtos também são outro grave problema neste ciclo e as perdas por geadas, secas e outras intempéries climáticas se tornam quase insignificantes frente a estes desafios.
O consumidor final também não está livre dessa culpa, a cultura da fartura e mesa cheia nas famílias brasileiras faz com que muitas famílias comprem mais do que consomem e com isso é comum ir ao lixo as sobras. Aliadas a isso, as fortes campanhas de marketing para induzir o consumidor a comprar a partir do que se vê, faz com que alimentos de pequeno tamanho, com pequenas marcas ou cores alteradas sejam rejeitados e percam valor no mercado, muitas vezes permanecendo nas prateleiras até se definharem.
Apesar disso, ações têm surgido com o objetivo reverter este cenário entristecedor. As conhecidas maçãs da Turma da Mônica é um exemplo, por terem tamanho reduzido essas maçãs eram rejeitadas pelos consumidores até o momento em que os personagens foram associados ao produtos, agregando valor cultural às maçãs que, apesar de menores, são bastante saborosas e acabam atendendo ainda melhor o público infantil.
A rede Save Food Brasil, que tem apoio da FAO, da WRI e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre outros, é uma iniciativa que atua com muita força nesta área. A organização tem a meta de “até 2030, reduzir à metade o desperdício mundial de alimentos per capita nas vendas do varejo e consumo, e reduzir as perdas de alimentos nas cadeias de produção e distribuição, incluindo as perdas antes da colheita.”
O fato é que ninguém ganha com todo este desperdício, trazendo apenas prejuízo econômico, impactos ambientais e danos sociais. Para mudar isso, será necessário muito empenho de toda a sociedade, com investimentos públicos e privados responsáveis e com uma mudança cultural significativa onde as pessoas passem a valorizar o alimento que consomem e se solidarizem com aqueles que em pleno século XXI ainda morrem de fome e desnutrição.