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Laticínios São Vicente aposta em reestruturação para dobrar faturamento

Alysson Almeida, do São Vicente

Matéria originalmente publicada pelo Globo Rural

Quase cinco anos após iniciar um profundo processo de reestruturação e pouco menos de cinco meses desde o encerramento de sua recuperação judicial, o mineiro Laticínios São Vicente dá sinais de um novo ciclo promissor. A empresa, uma das maiores produtoras de queijos de mofo do país, traça um ambicioso plano de crescimento, que inclui a aposta em produtos premium, expansão da capacidade produtiva e fortalecimento das parcerias com fornecedores de leite.

O processo de recuperação judicial, iniciado em 2020 em meio aos efeitos da pandemia de covid-19, foi marcado por decisões difíceis. A empresa reduziu seu quadro de funcionários em mais de 40%, readequou sua captação de leite e revisou completamente seu portfólio de produtos. As mudanças, embora dolorosas, abriram caminho para um novo momento.

Segundo reportagem do Globo Rural, o faturamento saltou de R$ 70 milhões, na época do pedido de recuperação, para R$ 170 milhões em 2024. A expectativa para este ano é alcançar R$ 230 milhões. “Em três, quatro anos, mais que dobramos a companhia”, afirma o CEO e sócio Alysson Almeida.

Do colapso à retomada

A trajetória recente da empresa incluiu a saída do fundo de investimento Mercatto (ligado ao Bozano), que havia aportado recursos em 2014 e se retirou cinco anos depois. Foi então que Alexandre Gribel, primo da família fundadora, assumiu a posição de sócio majoritário e convidou Almeida para liderar a reestruturação.

Na época, a empresa acumulava R$ 18 milhões em prejuízo e uma dívida de R$ 65 milhões. Uma das razões apontadas por Almeida para a crise foi o crescimento acelerado promovido pelos antigos investidores, sem uma estrutura de capital adequada para sustentar tal expansão. Parte dos recursos captados foi imobilizada na aquisição do laticínio Lulitati, deixando a empresa dependente de empréstimos de curto prazo para financiar a operação.

A pandemia acabou por antecipar a decisão de solicitar recuperação judicial, deferida em maio de 2020. Durante o processo, foram implementadas ações estratégicas para conter o endividamento, reorganizar a fábrica, ajustar a linha de produtos e rever a atuação de mercado.

Parceria com fornecedores e foco em valor agregado

A homologação do plano de recuperação aconteceu apenas em setembro de 2022, em razão dos atrasos causados pela pandemia. Um dos diferenciais do plano foi a criação de uma classe especial para os fornecedores de leite — considerados credores essenciais — com condições mais vantajosas para aqueles que retomassem o fornecimento. A medida foi fundamental para a reconstrução da base de fornecedores, que voltou ao patamar anterior à crise: cerca de 330 produtores.

Com a retomada, a empresa também reviu seu mix de produtos. Queijos frescos e de baixo retorno, como o frescal e a muçarela, foram deixados de lado. O novo foco está em produtos de maior valor agregado, como queijos de mofo branco e azul, além da entrada no mercado de food service com requeijões e no desenvolvimento de linhas porcionadas e queijo coalho.

Expansão e novos investimentos

Para sustentar o crescimento, o São Vicente projeta investimentos de R$ 4 milhões em 2025, voltados para a ampliação das unidades de Perdões e Ritápolis, com ênfase na produção de queijos mofo e amarelos, além de melhorias em armazenamento.

O número de colaboradores, que chegou a cair para 170 durante a crise, está agora em 350. A captação de leite também voltou ao volume anterior: cerca de 90 mil litros por dia.

A transformação do São Vicente é um exemplo de como planejamento, inovação e foco em produtos de maior valor podem ser o caminho para a retomada sustentável na indústria de laticínios.

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