Matéria baseada em publicação do Estadão, Broadcast+ em 25/04/2025.

O tradicional mercado italiano Eataly deixará oficialmente de existir no Brasil. A unidade localizada na Avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo, passará por uma profunda transformação: ganhará um novo nome e abrirá espaço para restaurantes e produtos que não estejam restritos à culinária italiana. A nova proposta ainda está em desenvolvimento e reflete o esforço da empresa responsável pela operação local para superar sérias dificuldades financeiras.

O grupo que administrava o Eataly entrou em recuperação judicial no final de 2024, acumulando dívidas de cerca de R$ 50 milhões. Desde então, vem promovendo ajustes e cortes para tentar equilibrar as contas. O espaço, que continua funcionando, agora busca se reinventar para atrair novos parceiros e clientes.

Disputa judicial e mudanças no conceito

A gestão anterior enfrentou uma série de desafios, incluindo a perda dos direitos de uso da marca Eataly no país, após uma disputa com o grupo italiano detentor da marca. Com isso, a operação foi obrigada a remover todas as referências ao nome original. Além disso, houve uma tentativa de impedir uma ação de despejo movida pelo grupo Caoa, proprietário do imóvel.

Sem as amarras contratuais que antes limitavam o conceito do negócio – como a obrigatoriedade de compra de produtos importados e a proibição de vender itens como Coca-Cola –, a nova gestão pretende ampliar o leque de cozinhas e produtos. O objetivo é tornar o local mais diversificado e acessível, mantendo, no entanto, a estrutura central de mercado cercado por restaurantes e a escola de gastronomia.

Futuro do espaço

Ainda não há uma data oficial para a inauguração do novo conceito, mas a expectativa é que a transformação ocorra em fases, com a conclusão prevista para meados de 2025. Entre as opções estudadas está a criação de uma nova marca própria ou até mesmo a exploração do espaço por meio de “naming rights”, conceito comum em arenas esportivas.

A chance de o nome Eataly voltar a ser utilizado é considerada remota, mesmo que haja uma vitória judicial futura na disputa contra o grupo italiano. Caso isso ocorra, a tendência seria buscar uma indenização financeira, sem retorno da marca ao espaço.

A trajetória do Eataly no Brasil

O Eataly inaugurou sua operação no Brasil em 2015, trazendo o conceito criado em Turim, na Itália, em 2007: um mercado que combina venda de produtos típicos com restaurantes, cafés e sorveterias. Rapidamente, o espaço se tornou um símbolo entre os apreciadores da culinária italiana no país.

Inicialmente, a operação brasileira surgiu de uma sociedade entre o grupo italiano e o grupo St. Marche, também hoje em recuperação judicial. Em 2022, a gestão passou para o grupo South Rock, então responsável pelo Subway no Brasil, e, em 2023, foi vendida para o fundo Wings, formado por investidores locais que investiram mais de R$ 20 milhões no negócio. Atualmente, a administração está a cargo de Marcos Calazans, CEO da nova controladora.

Procurada pela reportagem, a administração do Eataly Brasil não comentou o caso.