A transição energética na Europa ganhou um novo impulso com a recente parceria entre Repsol e Bunge. As empresas anunciaram o uso da camelina e do cártamo — oleaginosas de cultivo resistente — como insumos intermediários para a fabricação de combustíveis renováveis, como o HVO (óleo vegetal hidrotratado) e o SAF (combustível sustentável de aviação).
Esses novos biocombustíveis são capazes de reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa ao longo de seu ciclo de vida, quando comparados ao diesel convencional. Segundo as companhias, trata-se de uma alternativa viável e sustentável para os setores de transporte e aviação, com impactos significativos na descarbonização dessas cadeias.
Tecnologia, solo e sustentabilidade
A Repsol empregará tecnologia de ponta em suas refinarias na Espanha para converter os óleos derivados das oleaginosas em combustíveis de baixa emissão. Um dos diferenciais do projeto é a origem das matérias-primas: tanto a camelina quanto o cártamo podem ser cultivados em terras em pousio — áreas temporariamente inativas — sem competir com culturas alimentares. Isso garante renda extra aos agricultores locais e contribui para a biodiversidade e a regeneração do solo.
De acordo com o comunicado oficial, o modelo fortalece os sistemas agrícolas e demonstra que é possível conciliar produção energética com responsabilidade ambiental.
Parceria estratégica para o agro e o futuro da energia
A colaboração entre as duas empresas marca uma aliança estratégica entre o setor agroindustrial e a indústria de energia. Julio Garros, co-presidente da divisão de Agronegócios da Bunge, destacou o foco em inovação e apoio ao produtor rural. “Estamos investindo em plantas com maior capacidade de processamento para aumentar a oferta global de insumos sustentáveis”, afirmou.
Já Juan Abascal, diretor executivo de Transformação Industrial e Economia Circular da Repsol, reforçou a importância dos cultivos intermediários para garantir o fornecimento contínuo de matéria-prima renovável. Ele também apontou a Bunge como “aliada estratégica na missão de viabilizar combustíveis de baixa emissão para o transporte e a indústria”.
Potencial das oleaginosas frente à crise climática
A camelina (Camelina sativa) e o cártamo (Carthamus tinctorius) destacam-se por sua resiliência em climas áridos e solos de baixa fertilidade. A camelina, pertencente à família das crucíferas, apresenta ciclo curto e alto teor de óleo. O cártamo, por sua vez, é tradicionalmente utilizado para a produção de corantes e óleo comestível, mas também possui grande potencial produtivo mesmo em regiões semiáridas.
Com o avanço das mudanças climáticas, culturas como essas representam soluções promissoras para garantir segurança energética e alimentar, ao mesmo tempo em que fortalecem práticas agrícolas sustentáveis.
Fonte: Globo Rural