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Fila pra quê? Com seu app, a Onyo quer revolucionar a venda de balcão

Tempo é dinheiro, diz o ditado. Mais do que isso, é um bem intangível, valiosíssimo e muitas vezes desperdiçado. Num shopping center, “qualquer quinze minutinhos” antes do almoço pode ser uma distração, uma chance para espiar vitrines, folhear livros ou resolver a compra de um presente de aniversário. Em vez disso, porém, com frequência gastamos o tempo na fila da lanchonete, aguardando a nossa vez.

“E quantas vezes a gente não pede com aquela pressão, em que está todo mundo impaciente atrás, e a gente fica ‘ai, tenho que pedir rápido’? E o atendente pergunta: ‘qual o molho?’. Está todo mundo esperando e você tem que decidir o molho…”

Quem dispara a provocação acima é Alexandre Dinkelmann, sócio e co-fundador da Onyo. A empresa lançou um aplicativo para smartphones que aposta no conceito de “order ahead” (pedir antes, em tradução livre) para simplificar a vida dos clientes e donos de restaurantes de praças de alimentação. O pedido é feito pelo app, entra automaticamente no sistema da loja e já começa a ser preparado – furando a fila de quem ainda está ali, de pé, escolhendo o molho.

O Onyo, porém, é muito mais do que um papa-fila, como frisa o empreendedor. Ele traça um paralelo com os aplicativos de transporte urbano: “Hoje, dificilmente eu tomo um táxi naquele ‘modelo tradicional’ de levantar o dedo, pegar a carteira, ouvir o motorista perguntar qual é o melhor caminho… Com o Onyo, em vez de chegar no balcão e travar aquele diálogo chato, meio robótico e roteirizado que não agrega nada, você interage com a marca pelo app, vê as fotos do restaurante, pede sem pressão, ‘favorita’, guarda os seus pedidos… A experiência é muito melhor.”

Do ponto de vista dos donos de restaurante, as vantagens do app são múltiplas. Coletar feedbacks e ajudar a fidelizar o cliente são duas delas.

Além disso, o Onyo é uma forma ágil e econômica de destravar o potencial de produção da cozinha no horário de pico. A ferramenta ajuda a capturar a demanda sem a necessidade de instalar mais PDVs ou de colocar um “canário” anotando no papel os pedidos dos clientes que estão de pé na fila (uma solução improvisada que implica em risco para o restaurante, já que o pedido vai para a cozinha antes do pagamento, que pode não ocorrer caso o cartão seja rejeitado ou o cliente mude de ideia).

“O app melhora a experiência que o restaurante dá para os seus consumidores reduzindo a dependência da mão de obra”, diz Dinkelmann. “As redes têm um turnover absurdo e toda hora precisam ficar treinando para que a experiência seja minimamente boa. Com a tecnologia, a gente diz o seguinte: a sua experiência pode ser boa para o consumidor sem você ter que ficar ‘enxugando gelo’….”

A Onyo não tem escritório. Os sócios e os 11 funcionários trabalham remotamente, espalhados por São Paulo, Santos, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul e Nova York, onde vive o carioca Dinkelmann. A cada 45 dias, ele passa dez no Brasil. Mesmo nos EUA, o conceito de “order ahead” é novo. Quem está puxando o tema lá é a Starbucks, mas por meio de um app próprio. O sócio da Onyo torce o nariz:

“O consumidor não vai baixar um aplicativo de cada rede, ou de cada restaurante… Não é relevante isso, por mais forte que seja a rede”, diz o empreendedor. “A gente traz um alcance digital grande para essas redes através de um marketplace, mas dando muito engajamento de marca.” Com fotos, cores e o cardápio de cada restaurante, o app cria um ambiente digital que reforça a identidade da rede.

O desenvolvimento do app levou cerca de dois anos, entre pesquisas e testes. Dinkelmann explica que a plataforma se adapta a diferentes tipos de operação, seja com pedido impresso em papel ou enviado automaticamente à cozinha por KDS (Kitchen Display System). Os principais cartões de crédito (Amex, Master, Visa) e vales-refeição (Alelo, Ticket, VR) já são aceitos como modo de pagamento.

A empresa ganha uma porcentagem por cada transação feita pelo aplicativo (o percentual não é revelado). Por enquanto, usuários podem utilizar o app em lojas específicas de 14 marcas, como as de Baked Potato, Subway, Pizza Hut e Mania de Churrasco no Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, e as unidades das redes Bibi, Montana Grill e Vivenda do Camarão no BarraShopping, no Rio de Janeiro.

O sócio da Onyo, porém, diz que já tem 30 marcas assinadas, que serão ativadas ao longo dos próximos meses. Outros shoppings paulistanos também devem entrar em breve no app. E a meta da empresa é ambiciosa: dominar as duas maiores cidades do país até o fim de 2018.

“Estamos falando em chegar a cinquenta praças de alimentação das mais relevantes, numa ordem de grandeza de dez a doze restaurantes por praça. Seriam, então, algo entre 500 a 600 restaurantes ativados na plataforma.”

Para começar a alavancar esse movimento de conquista territorial, a Onyo lançou sua campanha de marketing em julho de 2017, com foco no Shopping Vila Olímpia e apoio dos restaurantes que operam no app.

“Foi um sucesso, estamos chegando perto de mil usuários ativos em apenas um mês de lançamento”, diz Dinkelmann. “Fazemos campanhas focadas com cada marca, e exclusivas para o app, e elas perceberam o poder do nosso canal. Em alguns casos, representamos 30% do movimento da loja, com aumento de faturamento em relação ao baseline anterior.”

O empreendedor pensa longe e já projeta conquistar a marca de 100m mil usuários até dezembro de 2018. O desafio, agora, é trabalhar num marketing consistente para transformar o hábito do consumidor.

“Assim como em quatro anos o hábito do passageiro de táxi mudou em 180 graus, teremos o mesmo caminho para mudar o hábito de milhões de pessoas que todos os dias consomem comida fora do lar. Você vai ver: em poucos anos, a experiência no universo de fast casual, com venda de balcão, será totalmente diferente, como hoje é diferente pegar um táxi ou carro particular para ir de um lugar a outro.”