Com a crescente demanda por práticas agrícolas mais responsáveis, o agronegócio brasileiro tem acelerado a adoção de soluções sustentáveis — e os bioinsumos despontam como protagonistas dessa transformação. Produzidos a partir de microrganismos naturais, esses insumos vêm ganhando espaço nos campos do país e reforçam o papel do Brasil como líder mundial em inovação verde no setor agrícola.
O avanço é notável. Hoje, o Brasil já responde por mais de um terço do mercado global de bioinsumos, crescendo acima da média mundial nos últimos anos. Só na safra 2024/2025, o uso desses produtos aumentou 13%, cobrindo uma área de 156 milhões de hectares. A liderança se reflete também na diversidade de culturas atendidas: soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, café e citrus são algumas das principais.
Além do impacto positivo na produtividade e na saúde do solo, os bioinsumos também reforçam a soberania do país em um setor historicamente dependente de insumos importados. Atualmente, cerca de 90% das matérias-primas utilizadas na fabricação desses produtos são de origem nacional — um contraste com a alta dependência externa registrada na área de fertilizantes.
De líderes a exportadores: o próximo passo
Apesar de já ser referência na produção, o Brasil quer mais. O país agora se prepara para conquistar novos mercados e se firmar como exportador relevante de bioinsumos. Com exportações anuais estimadas em US$ 90 milhões, o setor busca ampliar sua presença global por meio do recém-lançado Projeto Bioinsumos do Brasil.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a CropLife Brasil — entidade que reúne 54 empresas do setor, incluindo gigantes como Syngenta, Bayer, Basf, Corteva e Koppert. Com um investimento de R$ 5,6 milhões dividido entre as duas organizações e apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária, o projeto prevê três frentes principais: mapeamento de oportunidades em mercados estratégicos, participação em feiras internacionais e formação de parcerias com cooperativas e associações no exterior.
Potenciais mercados e imagem global
Entre os destinos mapeados estão Estados Unidos, União Europeia, Chile, Colômbia, México, além de regiões com clima similar ao brasileiro, como o Sudeste Asiático e partes da África. A estratégia também busca atender à demanda crescente de consumidores por produtos mais transparentes e sustentáveis.
“Ao mesmo tempo em que vivemos a ameaça de uma crise climática, precisamos buscar uma relação melhor com a produção para atender ao consumidor. E o melhor caminho são os bioinsumos”, afirmou Jorge Viana, presidente da ApexBrasil.
Ciência brasileira reconhecida no mundo
O reconhecimento internacional da competência brasileira nessa área também cresce. Um exemplo é o recente prêmio World Food Prize 2025, concedido à pesquisadora da Embrapa Mariangela Hungria da Cunha, por sua contribuição ao desenvolvimento de bioinsumos. Seu trabalho com bactérias fixadoras de nitrogênio na cultura da soja é um marco para a sustentabilidade agrícola.
Com mais de 1.000 produtos registrados — metade lançados nos últimos três anos — e mais de 170 empresas no mercado, o setor se mostra dinâmico e preparado para os novos desafios. E o potencial é imenso. Como afirmou Eduardo Leão, presidente da CropLife Brasil, “temos uma oportunidade única de transformar o Brasil em uma plataforma exportadora líquida de bioinsumos”.
Fonte: Bloomberg Línea