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Sem imigrantes, sem comida: o agronegócio dos EUA

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O agronegócio norte-americano está enfrentando um cenário de incertezas e tensões. Com base fortemente estruturada na mão de obra imigrante, especialmente em áreas como colheita, processamento e embalagem de alimentos, o setor agora vê sua estabilidade ameaçada por medidas mais rígidas de fiscalização e deportação de trabalhadores.

Desde o início do ano, o ex-presidente Donald Trump anunciou a intenção de deportar até 1 milhão de imigrantes em 2025. Até recentemente, o setor agrícola vinha sendo relativamente poupado das ações do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE). No entanto, essa dinâmica começou a mudar. Na última semana, operações de fiscalização foram intensificadas, atingindo diretamente trabalhadores rurais e de processamento alimentar.

Na terça-feira (10), dezenas de imigrantes foram detidos em campos e centrais de embalagem nas terras agrícolas da Califórnia, de San Joaquin ao litoral. No Nebraska, uma ação semelhante paralisou parte das operações em um frigorífico de Omaha. Já no Novo México, 11 trabalhadores foram presos em uma fazenda de laticínios. O impacto dessas ações se espalhou por diversas regiões, criando um ambiente de medo e instabilidade nas comunidades rurais.

Um risco direto à segurança alimentar

A economia agrícola dos Estados Unidos depende, em larga escala, da força de trabalho estrangeira. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), existem cerca de 2,6 milhões de empregos diretos em fazendas, representando 1,2% da força de trabalho nacional. Quando se somam os empregos indiretos — nos setores de transporte, processamento, distribuição e serviços —, o número sobe para mais de 22 milhões, ou 10,4% do total de empregos do país.

Estudos indicam que a deportação em massa pode reduzir a produção agrícola entre US$ 30 bilhões e US$ 60 bilhões por ano. Estados como Wisconsin e Dakota do Sul, por exemplo, onde mais de 70% dos trabalhadores das fazendas de laticínios são imigrantes, correm o risco de ver sua produção colapsar diante da falta de pessoal.

Reações e alternativas em debate

A repressão migratória está provocando respostas políticas. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, ao lado de prefeitos e líderes locais, vem tentando barrar o uso de forças militares nas operações de imigração e acionando a Justiça Federal para conter os impactos. O temor generalizado nas zonas rurais, onde os efeitos são imediatos, vem gerando protestos, retração econômica e desestruturação de comunidades inteiras.

Especialistas apontam duas possíveis soluções para mitigar os efeitos da crise: a ampliação do programa de vistos temporários H‑2A, voltado a trabalhadores agrícolas, e a aprovação do projeto de lei Farm Workforce Modernization Act, que propõe a legalização de imigrantes já atuantes no setor. No entanto, ambas as propostas enfrentam desafios estruturais e resistências políticas no Congresso.

A conexão invisível entre imigrantes e nossos alimentos

A crise no campo norte-americano nos convida a refletir sobre a interdependência entre trabalho imigrante e segurança alimentar. Esses trabalhadores estão por trás de atividades essenciais: colheita de frutas, ordenha de vacas, filetagem de carnes, processamento de vegetais e até o preparo de refeições em cozinhas industriais e restaurantes. Muitos desses empregos são considerados insalubres ou perigosos — e, segundo produtores, dificilmente seriam ocupados por trabalhadores locais.

Portanto, qualquer desequilíbrio nesse sistema pode provocar desabastecimento, aumento de preços e desorganização da cadeia produtiva. Em um mundo globalizado, o que acontece nos campos dos Estados Unidos também afeta mercados, cadeias logísticas e até o consumidor final no Brasil.

O momento é de alerta — não apenas para o setor agrícola americano, mas para todos que dependem de alimentos acessíveis, seguros e em quantidade suficiente.


Fonte: Forbes

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