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Indústria de suco de laranja SP enfrenta fim de benefício fiscal

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Além das dificuldades já conhecidas, como a queda da produção, do consumo e os impactos do greening — doença que afeta os pomares de laranja —, a indústria de suco agora encara mais um obstáculo: a alta na carga tributária em São Paulo.

Desde 2021, a indústria contava com um benefício fiscal que reduzia o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 18% para 3%. No entanto, o governo paulista decidiu não renovar esse crédito outorgado. Como resultado, mesmo com uma recente redução do ICMS de 18% para 12%, os engarrafadores de suco integral ainda estão pagando cerca de 300% a mais do que nos últimos anos.

A decisão pegou o setor de surpresa, e representantes da indústria acreditam que pode ter havido um mal-entendido por parte da Secretaria da Fazenda na interpretação da nova política tributária estadual, anunciada em janeiro deste ano. O próprio secretário da Agricultura do Estado, Guilherme Piai, teria reconhecido o pleito do setor e prometido intermediação com a Fazenda.

Segundo Heuler Martins, diretor executivo da SucosBR — entidade que representa as engarrafadoras de suco integral —, o aumento da alíquota pode ter ocorrido pela percepção equivocada de que todas as indústrias do setor são grandes exportadoras, como Cutrale, Louis Dreyfus e Citrosuco. No entanto, essas empresas, representadas pela CitrusBR, atuam majoritariamente no mercado externo e são pouco afetadas pelo ICMS.

Diante da situação, a SucosBR prepara um levantamento para apresentar ao governo paulista, com dados sobre o impacto financeiro da mudança e a importância econômica do setor para o estado, incluindo geração de empregos e investimentos. Uma reunião com a Secretaria da Fazenda está sendo articulada, embora ainda sem data marcada.

Enquanto isso, a realidade para os produtores é dura. Julio Cesar Jacobs, CEO da Jacobs Citrus, afirma que a demanda por suco integral caiu 40% nos últimos 12 meses, com o litro do produto chegando a R$ 18 nas prateleiras. O consumidor, segundo ele, tem optado por refrigerantes e néctares mais baratos, mesmo com menor valor nutricional.

A queda no consumo já reflete na produção: a Jacobs reduziu seu processamento para 30% da capacidade, enquanto a Natura Citrus opera com apenas metade de sua estrutura. As duas fazem parte de um grupo de dez empresas que, nos últimos dez anos, incentivaram o consumo de suco integral no Brasil.

“Saímos da produção rural para a industrialização, buscando mais valor agregado. Agora, enfrentamos o pior cenário possível”, comenta Luis Henrique Gallão, CEO da Natura Citrus.

A crise é agravada por uma safra historicamente baixa. Em 2024/25, a produção de laranjas caiu 25,6%, alcançando o menor volume em 36 anos. A seca intensa e o avanço do greening prejudicaram a qualidade dos frutos, deixando o suco mais ácido e menos atrativo ao paladar.

Diante dessa realidade, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo afirmou, em nota, que acompanha de perto os desafios do setor e mantém diálogo com produtores e empresas para buscar soluções conjuntas. A pasta também informou que, em março de 2025, o governo prorrogou até dezembro de 2026 a redução da base de cálculo do ICMS para o suco de laranja, por meio do Decreto nº 69.421, com o objetivo de evitar aumentos bruscos nos custos da cadeia produtiva.

Essa adaptação foi inspirada na matéria original publicada pelo O Globo

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