Nos últimos dois anos, o azeite de oliva enfrentou uma alta expressiva nos preços ao redor do mundo. De acordo com o Ídice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, somente em 2023 o produto acumulou uma inflação de 21,53%. Esse cenário levou o azeite a ser visto como um item de luxo, com redes de supermercados adotando lacres de segurança antifurto para o produto — uma prática comum para bebidas alcoólicas premium e cosméticos.
Diante do aumento constante nos preços, muitos consumidores passaram a buscar alternativas mais acessíveis, como óleo de soja, margarina e óleo de canola. Em resposta, marcas do setor investem em estratégias para reconquistar antigos clientes e oferecer novas soluções ao mercado.
Gallo e a Inovação no Mercado de Óleos
Uma das iniciativas mais marcantes é da Gallo, que lançou duas novas marcas no Brasil. Uma delas, chamada “de olliva”, comercializa óleo de oliva, conhecido na legislação brasileira como “óleo de bagaço de oliva”. Produzido a partir da segunda prensagem do azeite, o produto apresenta preços médios abaixo de R$ 30 e é destinado principalmente ao cozimento de alimentos.
Cristiane Souza, CEO do grupo Gallo no Brasil, explica que o óleo de bagaço de oliva é comum em mercados como os Estados Unidos e representa uma opção viável para consumidores que deixaram de adquirir azeite devido à inflação. “Esse produto é uma boa alternativa para aqueles que se acostumaram com o azeite, mas precisaram migrar para outras gorduras por questões financeiras”, diz a executiva.
Apesar do potencial do novo produto, especialistas destacam a importância de educar os consumidores sobre seu processo de produção. “O termo ‘bagaço’ pode gerar a falsa percepção de que o produto é inferior, o que não corresponde à realidade. Essa é uma solução acessível para quem busca produtos derivados da oliva”, afirma Lídia Adário, sommelier e especialista em azeite de oliva.
A Classificação dos Azeites
Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura), explica que a classificação dos azeites segue normas do Conselho Oleícola Internacional (COI). Enquanto o azeite extravirgem apresenta alta qualidade, sem defeitos sensoriais e acidez abaixo de 0,8%, o azeite virgem pode conter pequenos defeitos e acidez entre 0,8% e 2%. Já o óleo de oliva é produzido a partir dos componentes restantes da produção do azeite e passa por refinamento para ser adequado ao consumo humano.
“Essa segmentação é saudável para o mercado. Produtos como o ‘de olliva’ atendem a uma demanda por preços mais baixos, mantendo um padrão aceitável de qualidade”, destaca Fernandes.
Lançamentos com Foco em Diversificação
Outro lançamento da Gallo é a marca Rossio de Abrantes, que busca atender consumidores que utilizam azeite em aplicações mais sofisticadas. Disponível nas variantes verde, maduro e frutado, o produto é comercializado por aproximadamente R$ 80. Esses investimentos estão alinhados à meta da Gallo de dobrar de tamanho até 2029, com aporte de R$ 20 milhões em novos produtos e na renovação da marca.
A portuguesa Andorinha também apresentou inovações com o lançamento do OLI, produto que permite a personalização de blends de azeites. “Escolhemos o Brasil para lançar esse conceito devido ao crescente interesse dos brasileiros por azeites”, afirma Loara Costa, diretora de marketing do grupo Sovena. O OLI tem preço sugerido de R$ 75.
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Tendências para o Futuro
Com a recuperação das colheitas de oliva na Espanha a partir de outubro de 2024, os preços do azeite começaram a apresentar sinais de queda no mercado global. A expectativa é que essa tendência se reflita no Brasil, especialmente no segundo semestre de 2025. No entanto, como ressalta Cristiane Souza, “os preços dificilmente retornarão aos patamares anteriores”.
A combinação entre inovação, educação do consumidor e diversificação de produtos promete impulsionar o mercado de azeites no Brasil, consolidando o país como um dos maiores consumidores globais do produto.
Publicada no O Tempo, adaptada para o Portal Foodbiz