Com quase 60 anos de história, o Caneca de Prata é mais do que um bar: é um ícone da resistência e da representatividade LGBTQIAPN+ em São Paulo. Fundado em 1965 no centro da capital, o espaço permanece vivo graças à gestão de Ronaldo Rodrigues, atual responsável pelo negócio, que herdou o comando do tio, Cícero de Oliveira, em 2022.
Localizado na região do Arouche, o Caneca de Prata se destaca não apenas como um dos bares LGBTQIAPN+ mais antigos do Brasil, mas como um marco cultural da cidade. Em reconhecimento à sua importância histórica, o bar recebeu da Prefeitura de São Paulo uma placa do projeto Inventário Memória Paulistana — iniciativa que valoriza espaços simbólicos para os diferentes grupos sociais da capital. A homenagem destaca: “Aberto aqui em 1965, é reconhecido como o primeiro bar gay da região.”
Uma Nova Geração de Clientes
Apesar de ter apenas 12 mesas e capacidade para 50 pessoas, o movimento do bar vai muito além dos números. Com um ambiente aberto e convidativo, o Caneca atrai diariamente um público diverso, que se espalha pelas calçadas e bares vizinhos. O crescimento de 30% em 2024 revela como o local se mantém relevante, mesmo diante das transformações sociais e econômicas.
A pandemia de covid-19 provocou uma mudança importante no perfil da clientela. “Antes, o público era majoritariamente composto por pessoas com mais de 40 anos. Hoje, atraímos jovens de várias idades”, explica Ronaldo. Para acompanhar essa renovação, o bar passou a investir em eventos temáticos e feijoadas aos domingos, além de inserir DJs na programação, sempre com foco em manter um clima acolhedor — longe da atmosfera de balada.
Gestão Familiar e Preservação da Memória
A trajetória de Ronaldo dentro do bar começou ainda como atendente. Em 2013, recebeu 30% da sociedade do tio, que queria vê-lo envolvido na preservação da história do local. Hoje, Ronaldo detém 75% do negócio, e os outros 25% estão nas mãos de seu sobrinho, Marcelo Brito — mostrando que o Caneca segue sendo, literalmente, um empreendimento de família.
Mas gerir um espaço com tanto simbolismo exige equilíbrio entre inovação e respeito ao legado. “Os clientes não querem mudanças drásticas. Já reclamaram até de troca de papel de parede”, conta Ronaldo, que atualmente planeja reformas para modernizar o ambiente sem comprometer sua essência.
Digitalização como Estratégia
Outra virada importante foi o investimento na presença digital. Embora as redes sociais do bar tenham sido criadas por Cícero, foi com a nova gestão que elas ganharam força. “Hoje temos alguém dedicado só para cuidar das páginas, com fotos, vídeos e histórias do dia a dia”, diz Ronaldo. A estratégia tem dado certo: novos públicos passaram a descobrir o Caneca pela internet, atraídos tanto pela história quanto pela experiência única.
Patrimônio Afetivo e Inspiração para o Setor
O caso do Caneca de Prata ilustra como negócios do setor de foodservice podem aliar tradição, identidade e renovação. Mais do que sobreviver, o bar encontrou formas de crescer respeitando sua base fiel de clientes e ao mesmo tempo abraçando novas gerações.
Histórias como essa são fundamentais para repensarmos o papel dos estabelecimentos na construção de uma cidade mais inclusiva, diversa e viva — onde o foodservice não é apenas serviço, mas também memória, cultura e acolhimento.
Fonte: PEGN