Qual o tamanho do seu sonho? Para a goiana Leciane Maciel, ele tem 0,3 hectares — ou 3 mil metros quadrados. É nesse espaço, equivalente a um terço de um campo de futebol, que ela cultiva uvas há quase três anos. Localizado em Avelinópolis, a cerca de 70 quilômetros de Goiânia, o Sol Poente Parreiral é resultado de qualificação, dedicação, inteligência emocional — e de um desejo que surgiu de forma inesperada.
Formada em engenharia agrícola, Leciane conheceu seu marido Diego na faculdade. Ele, vindo de família de agricultores, já trabalhava com cultivo de soja. Juntos, começaram com uma plantação em terra arrendada. Com o nascimento da primeira filha, Leciane se dedicou à maternidade, mas com o tempo assumiu a administração e o manejo do campo. “A soja começou a pagar as contas e se tornar um negócio promissor”, relembra.
Tudo mudou após uma viagem a Gramado (RS), em comemoração aos dez anos de casamento. Encantada por um parreiral de 2 hectares que visitaram em uma vinícola, Leciane revelou ao marido: “Quero produzir uva”.
Clima desafiador e aposta em capacitação
Transformar esse desejo em negócio exigiu preparo. O clima do cerrado goiano é um desafio para a viticultura: altas temperaturas, longos períodos de seca e solo com poucos nutrientes. Leciane também enfrentava a limitação de não ter terras próprias. A situação mudou com a aquisição de uma chácara.
Ela mergulhou de cabeça nos estudos: fez cursos pelo Senar, formou-se pela Academia da Uva no Vale do São Francisco, buscou formação online e uma pós-graduação em gestão de grãos. Tudo foi planejado nos mínimos detalhes, incluindo os custos.
A variedade escolhida foi a isabel precoce, uma uva rústica, bem adaptada ao cerrado e com dupla aptidão — para consumo in natura ou produção de sucos e geleias. “É uma espécie mais fácil de trabalhar porque não é tão sensível. Se eu errasse na poda, por exemplo, não teria perdas”, explica.
A primeira colheita, em julho de 2024, rendeu 1,3 mil quilos.
Turismo rural como estratégia de expansão
Para crescer, Leciane investiu no turismo rural. O parreiral foi aberto à visitação por R$ 30 a entrada, com direito a colher uvas, aprender sobre o cultivo e degustar produtos artesanais. A experiência inclui uma cesta, uma tesoura e um momento de contato direto com a natureza.
Em apenas duas semanas, 80 pessoas passaram pelo local. Para a próxima safra, a expectativa é ainda maior — tanto pela produção quanto pela visibilidade conquistada nas redes sociais, única parte do negócio que Leciane terceiriza. A proximidade com Goiânia também favorece o crescimento.
Mesmo com o sucesso, o negócio ainda não gera lucro: toda a renda é reinvestida na operação.
O orgulho de quem persiste
Além da uva, Leciane cuida das duas filhas, de 8 e 12 anos, e ainda apoia o marido na plantação de soja. Sem rede de apoio, se desdobra entre os papéis com firmeza. “Sempre gostei muito da soja, mas a parreira me encanta. Com ela, consigo chegar muito próximo das pessoas.”
Ela enfrentou muitos obstáculos e críticas, mas desistir nunca foi opção. “Eu tinha que fazer dar certo. Não queria ir para a vala comum, que é desistir na primeira dificuldade.”
Seu conselho para outras mulheres empreendedoras: invistam no desenvolvimento técnico e pessoal. “A evolução nos dá mais clareza, mas isso não significa que o percurso será mais fácil.”
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