O governo federal decidiu flexibilizar as restrições à importação de resíduos sólidos no Brasil, permitindo a entrada de materiais como PET, vidro e papelão para fins industriais específicos. A medida, no entanto, tem gerado preocupação entre os catadores de materiais recicláveis, que veem a decisão como um retrocesso para a sustentabilidade e para a economia do setor.
Anderson Nassif, diretor de logística reversa da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais (ANCAT), manifestou sua oposição à medida, defendendo a revogação do decreto. “Somos 100% contrários e a favor da revogação total do decreto, pois ele prejudica profundamente nossa categoria”, afirmou Nassif.
De acordo com o diretor da ANCAT, a medida já está afetando o setor de reciclagem no Brasil. “As cooperativas de catadores começaram a receber notificações de empresas compradoras de materiais, alertando sobre quedas nos preços ao longo do tempo”, explicou Nassif. Ele estima que a redução nos valores de materiais recicláveis, como PET e papelão, pode chegar a 30% ou 40%, afetando negativamente a sustentabilidade econômica dessas organizações.
Além do impacto econômico, o diretor também apontou as possíveis consequências ambientais dessa flexibilização. “O impacto ambiental pode ser enorme, já que não está claro como esses resíduos serão trazidos para o país, nem de onde virão”, destacou. Nassif lembrou que, em casos anteriores, materiais importados como sendo de boa qualidade se revelaram rejeitos, incluindo resíduos hospitalares.
Em sua argumentação, o diretor da ANCAT sugere que, ao invés de importar resíduos, o Brasil deveria investir em políticas públicas de coleta seletiva com foco na inclusão socioeconômica dos catadores. “Um país que recicla menos de 5% de seus resíduos deveria priorizar o fortalecimento da coleta seletiva e a inclusão dos catadores, para garantir que o processo de reciclagem seja mais eficiente e sustentável”, afirmou.
A flexibilização das regras de importação de resíduos sólidos levanta questões importantes sobre o futuro da reciclagem no Brasil e o papel dos catadores nesse processo. Enquanto o governo justifica a medida como uma forma de atender a demandas industriais específicas, o setor de reciclagem expressa receios quanto à sustentabilidade do modelo e ao impacto ambiental que pode ser gerado com a entrada desses materiais no país.
Fonte: CNN
