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Casa de Garrafas: Uma Revolução Sustentável liderada por mãe e filha

Planeta pós-pandemia

Em um cenário onde apenas 22% do vidro consumido no Brasil é reciclado, segundo a ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), histórias como a de Edna e Gabrielly Dantas se tornam faróis de inspiração. Mãe e filha, catadoras de recicláveis, negras e moradoras da Praia do Sossego, na Ilha de Itamaracá (PE), decidiram transformar realidade e resíduos em um projeto inovador que une moradia, educação e sustentabilidade.

De invisíveis à referência mundial

Integrantes das 327 mil famílias sem acesso à moradia em Pernambuco, de acordo com a ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Edna e Gabrielly encontraram nos materiais que coletavam diariamente uma oportunidade de mudança. Em 2020, elas ergueram, com as próprias mãos, a primeira casa vertical do mundo feita com garrafas de vidro.

Foram utilizadas 13 mil garrafas, recolhidas em diferentes pontos da cidade. Os primeiros 20m² da casa foram construídos apenas por elas. Nas etapas seguintes, um mutirão de moradores da ilha se uniu para concluir a estrutura, que hoje tem 80m², seis cômodos e levou um ano e meio para ser finalizada.

Um lar inteligente, sustentável e acolhedor

A construção, além de ecológica, foi pensada com inteligência. As garrafas posicionadas na vertical permitem a passagem da luz solar, iluminando o interior da casa e reduzindo o uso de energia elétrica durante o dia. Outra vantagem é a regulação térmica: o vidro, por ser um bom isolante, ajuda a manter o ambiente fresco — essencial no clima quente do litoral nordestino.

Mais do que uma moradia digna, a casa representa um impacto ambiental positivo. Segundo a Fiocruz, o vidro pode levar até 1 milhão de anos para se decompor. Ao reaproveitá-lo, Edna e Gabrielly criaram uma solução de longo prazo que alia moradia e preservação.

Uma plataforma de educação e empoderamento

A chamada Casa de Sal se transformou em uma verdadeira plataforma de educação socioambiental. Hoje, o espaço abriga palestras, cursos e oficinas voltadas especialmente para o empoderamento de mulheres negras e disseminação de soluções ecológicas.

Um exemplo prático é a lixeira comunitária feita com vidro reciclado. Mulheres participantes dos cursos aprendem a construir essas lixeiras e as distribuem pela comunidade, promovendo consciência ambiental e protagonismo feminino.

Moda sustentável e afroempreendedorismo

Do vidro para os tecidos: Edna e Gabrielly também mergulharam na moda sustentável. Assim nasceu a marca Cabrochas moda sustentável, que transforma materiais como plástico, sacos de ráfia, redes de pesca e retalhos em roupas únicas e criativas.

A iniciativa, que ganhou força dentro da comunidade, passou a integrar a Futuro Black, uma loja colaborativa de afroempreendedores que fortalece pequenos negócios liderados por mulheres negras. Um dos marcos da marca foi um desfile à beira-mar, onde Gabrielly mobilizou outras jovens da região para atuarem na produção, da criação das peças à apresentação.

Sustentabilidade como resposta ao racismo ambiental

Para Gabrielly Dantas, todo o projeto é uma resposta concreta ao racismo ambiental. Através de iniciativas sustentáveis, lideradas por mulheres negras e periféricas, a Casa de Sal prova que justiça social e preservação ambiental podem caminhar juntas.

No Brechó Cabrochas, as peças criadas pelas afroempreendedoras estão disponíveis para compra, incentivando a economia circular, a autonomia financeira e o consumo consciente.

Imagem: Reprodução – Arquivo pessoal
Fonte: Catarinas

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