O mês de abril trouxe novo fôlego ao mercado internacional de café, com destaque para o arábica, que voltou a ser negociado acima dos 400 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York. A movimentação refletiu uma combinação de fatores: preocupações com a oferta global, desvalorização do dólar e melhora no humor dos mercados financeiros.
Clima e safra brasileira em foco
O principal fator de sustentação para a valorização foi o clima adverso enfrentado pela safra brasileira de 2025. A combinação de seca severa e altas temperaturas em 2024, somada às condições irregulares nos primeiros meses de 2025, prejudicou o desenvolvimento das lavouras de arábica. Mesmo com o início da colheita, que tende a pressionar os preços internamente, a percepção de menor oferta global manteve o mercado em alerta.
Efeitos da política internacional e câmbio
Segundo o consultor Gil Barabach, da Safras & Mercado, o otimismo voltou aos mercados com sinais de trégua na guerra tarifária entre Estados Unidos e China. O alívio nas tensões comerciais, com promessas de flexibilização por parte do governo norte-americano, impulsionou ativos em geral — e o café acompanhou o movimento.
Paralelamente, o dólar perdeu força frente a várias moedas. O índice DXY recuou abaixo dos 100 pontos, enquanto o real se valorizou, voltando à faixa de R$ 5,00. Como as commodities são cotadas em dólar, a desvalorização da moeda americana favoreceu os preços do café, sobretudo no cenário brasileiro: com o dólar mais fraco, os produtores tendem a segurar as vendas, esperando melhores condições de remuneração. Isso estimula a valorização nos mercados futuros.
Aspectos técnicos e comportamento dos fundos
Além dos fundamentos e do câmbio, o movimento de alta também foi alimentado por fatores técnicos. O mercado rompeu resistências importantes, ultrapassando o patamar de 416 centavos e alcançando máximas próximas de 419 centavos por libra-peso. A manutenção acima dos 400 centavos é vista como sinal de força, embora analistas alertem que a perda desse nível pode gerar pressão vendedora.
Os fundos de investimento seguem atentos. Apesar de ainda manterem posições compradas, reduziram sua exposição ao café. Dados da CFTC mostraram 41 mil contratos líquidos comprados em 22 de abril — um recuo considerável frente aos 76 mil do fim de janeiro. Essa redução reflete tanto a cautela diante do cenário financeiro quanto a expectativa de alívio parcial na oferta com a chegada da nova safra brasileira.
Robusta segue trajetória distinta
Enquanto o arábica ganha força em Nova York, o robusta negociado em Londres apresentou valorização mais tímida. A colheita no Brasil avança, e a safra principal na Indonésia começa a ganhar ritmo. Além disso, o clima no Vietnã — maior produtor mundial de robusta — tem se mostrado favorável, com previsões de boas chuvas que indicam uma safra 2025/26 mais robusta. Com isso, a arbitragem entre as bolsas de NY e Londres voltou a se ampliar, com o arábica sendo negociado 157 centavos acima do robusta.
Panorama no mercado físico brasileiro
No mercado interno, os preços também variaram. O café arábica bebida boa no Sul de Minas Gerais encerrou abril a R$ 2.650,00 por saca, com valorização mensal de 3,1%. Já o conilon tipo 7, em Vitória (ES), caiu 12,5%, fechando a R$ 1.715,00 por saca, refletindo o avanço da colheita e maior disponibilidade do grão.
Fonte: Revista Cafeicultura