A Nestlé está reforçando uma de suas frentes de negócios mais antigas, mas que tem ganhado fôlego nos últimos anos: o consumo de seus produtos fora do lar. De acordo com matéria publicada pelo Estadão, a multinacional suíça, que faturou R$ 77 bilhões na América Latina no ano passado, está intensificando sua atuação no segmento de foodservice – que inclui bares, restaurantes, hotéis, padarias e confeitarias.
Diante do cenário desafiador nas negociações com o varejo tradicional e o avanço dos atacarejos, a empresa vê no foodservice uma alternativa estratégica para ampliar margens e diversificar os canais de comercialização.
Lilian Miranda, executiva brasileira e atual Head da Nestlé Professional para a América Latina – primeira mulher a liderar a área a partir da Suíça – afirmou ao Estadão que os investimentos da companhia nesse segmento na região vão somar R$ 1,2 bilhão em 2025, 15% a mais do que em 2024. O Brasil deve receber metade desse valor.
Mais do que vender ingredientes, a Nestlé também oferece uma estrutura de serviços: chefs que criam receitas exclusivas com suas marcas, capacitação profissional para baristas, e desenvolvimento tecnológico, como o uso de inteligência artificial no monitoramento de máquinas de Nescafé. O tradicional café solúvel deu lugar, inclusive, a uma linha de cafés torrados e moídos, com presença crescente em cafeterias de aeroportos brasileiros.
Ainda segundo o Estadão, a executiva destacou que o negócio dobrou de tamanho no Brasil desde 2019 e hoje representa 8% do faturamento nacional da empresa – e 10% na América Latina. O setor de foodservice como um todo movimentou R$ 221 bilhões em 2024 no Brasil, segundo dados do Instituto Foodservice Brasil.
Com o consumo de alimentos fora de casa representando apenas 30% no Brasil, frente aos 55% nos Estados Unidos, Lilian vê um enorme potencial de crescimento para o segmento por aqui. A expectativa é que essa participação aumente para 50% nos próximos 20 anos.
Uma das estratégias da Nestlé para impulsionar o consumo fora do lar é o selo “feito com”, criado no Brasil e exportado para outros países. Ele indica que determinado prato – como uma sobremesa ou bolo – foi preparado com produtos da marca, como Leite Moça ou Ninho. A presença do selo pode elevar o valor do prato em até 40%, segundo Lilian.
Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice Consultoria, também ouvida pelo Estadão, acredita que a aposta no foodservice é uma alternativa inteligente para a indústria alimentar lidar com a pressão por preços no varejo e diversificar receitas. Ela observa ainda que as mulheres foram responsáveis por mais da metade do consumo de alimentos fora de casa em 2024, o que favorece produtos como café e chocolate – carros-chefes da Nestlé.
Apesar das oportunidades, o aumento da inflação de alimentos é uma preocupação. O cacau, por exemplo, quadruplicou de preço em 18 meses, segundo a executiva. Ainda assim, a empresa tem optado por não repassar integralmente esses custos ao consumidor, buscando compensações por meio de ganhos de produtividade e eficiência logística.
Com 16 anos de carreira na Nestlé e passagens por países como Peru, Holanda e Suíça, Lilian Miranda se mostra otimista com o Brasil, apesar das críticas internas. “O Brasil não é tão ruim e o que está lá fora não é tão bom quanto parece”, afirmou ao Estadão, reforçando o potencial do país, inclusive em inovação tecnológica.
Essa adaptação foi inspirada na matéria original publicada pelo Estadão