A Reforma Tributária introduziu o polêmico Imposto Seletivo (IS), apelidado de “imposto do pecado”, que promete impactar diretamente o bolso do consumidor e as empresas de bebidas alcoólicas, refrigerantes, cigarros, veículos poluentes e mineração. Com implementação gradual, começando em fase experimental em 2026 e ficando plenamente vigente em 2033, o novo tributo parte de uma alíquota base de 26,5%, com acréscimos para produtos considerados mais nocivos.
A cobrança, que não permite compensação com outros tributos, tem duplo objetivo: aumentar a arrecadação e induzir mudanças nos padrões de produção e consumo. “As empresas precisarão conciliar competitividade e nova carga tributária. A tecnologia será crucial nessa equação”, analisa Pedro Lima, CEO da Taxcel, startup especializada em transformação digital tributária.
Setor por setor
A indústria de bebidas enfrentará o desafio de reformular produtos com alto teor alcoólico ou de açúcar para reduzir as taxas adicionais. Para fabricantes de cigarros, o cenário é ainda mais desafiador, com alíquotas que espelham as rigorosas políticas antitabaco internacionais.
Montadoras terão que acelerar a transição para veículos menos poluentes diante da taxação progressiva sobre emissões de CO₂. A mudança, no entanto, esbarra em um obstáculo importante: apesar de mais sustentáveis, os veículos 100% elétricos ainda enfrentam limitações no Brasil, especialmente para viagens de longa distância, devido à falta de infraestrutura de recarga. Esse cenário, aliado ao impacto da nova carga tributária, pode estimular o surgimento de novos players interessados em investir e expandir a rede de carregamento pelo país.
Já a mineração, setor vital para a economia brasileira, terá de se adaptar a novos encargos sobre operações de maior impacto ambiental, o que pode reestruturar toda a cadeia produtiva. Embora necessária para mitigar danos e prevenir desastres, essa mudança poderá reduzir a competitividade frente a países como Chile, Austrália e África do Sul, além de potencialmente afastar investimentos estrangeiros. Com custos mais altos, efeitos em cadeia devem atingir setores como a siderurgia e a construção civil.
Tecnologia como amortecedor
Soluções tecnológicas serão aliadas para diminuir o impacto da transição no sistema de tributação e auxiliar as empresas a se adaptarem às novas regulações. “Esses sistemas podem definir se uma companhia pagará a alíquota mínima ou máxima do IS”, explica Lima.
Plataformas de gestão fiscal com inteligência artificial e machine learning permitem simular cenários e antecipar a repercussão tributária em toda a cadeia produtiva, dando suporte para empresários embasarem as decisões. Já o blockchain ganha destaque ao garantir transparência e rastreabilidade desde a origem das matérias-primas até o produto final.
Para fabricantes de bebidas, softwares de análise de composição possibilitam ajustes mais precisos nas fórmulas, reduzindo teores críticos sem afetar a qualidade percebida pelo consumidor. No setor automotivo e de mineração, sensores de IoT (Internet das Coisas) podem monitorar em tempo real emissões e impactos ambientais, gerando dados que permitem ajustes operacionais imediatos.
Oportunidade na crise
Apesar dos custos adicionais, o especialista enxerga na reforma uma chance para a modernização: “produtos com menos açúcar, veículos menos poluentes e práticas de mineração mais sustentáveis não apenas reduzem a carga tributária, mas também atendem à crescente demanda por responsabilidade socioambiental. A adaptação exigirá investimentos, mas empresas que souberem se antecipar podem transformar o ‘imposto do pecado’ em uma chance de melhorar suas reputações”, explica.
Fonte: Agência Noar