Abrir uma cafeteria brasileira nos Estados Unidos em meio a um ambiente internacional marcado por tarifas comerciais elevadas pode parecer uma decisão ousada — e é exatamente essa a estratégia da Cheirin Bão, a maior rede de cafeterias do Brasil, que está prestes a inaugurar sua primeira unidade internacional em Boston (EUA).
O movimento ocorre em um momento delicado para o comércio exterior, com os Estados Unidos aumentando tarifas sobre diversos produtos importados, impactando cadeias globais e criando incertezas econômicas. Ainda assim, a marca mineira acredita que é o momento certo para sua internacionalização.
A força da rede e o modelo de expansão
Fundada no final de 2015 em São Lourenço (MG), a Cheirin Bão faz parte da holding Universal Franchising desde 2016. Com mais de 900 franquias vendidas (800 em operação), a rede se consolidou como a principal marca brasileira de cafés especiais, combinando um modelo de negócios replicável com forte apelo emocional.
A entrada nos EUA não foi uma decisão impulsiva. Segundo Wilton Bezerra, CEO da rede, o mercado americano representa uma escolha estratégica, por seu alto nível de exigência e cultura consolidada de consumo de café. A operação será iniciada em parceria com o Grupo Zanon, com foco inicial no público latino e brasileiro, para, aos poucos, adaptar-se ao paladar americano.
Além disso, a marca projeta a abertura de 130 novas lojas no Brasil em 2025 e prevê um crescimento de 18% no faturamento, que fechou 2024 em R$ 400 milhões, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
Origem e trajetória empreendedora
A história da Cheirin Bão tem raízes afetivas e mineiras. A ideia nasceu da vontade de unir três ícones da gastronomia local: doce de leite, pão de queijo e café. Os fundadores, Eduardo Schroeder e Wilton Bezerra, uniram experiências distintas para criar a rede: Eduardo vindo da área jurídica e da administração de um restaurante, e Wilton com trajetória no comércio popular e consultoria de franquias.
A virada da empresa veio em 2020, em plena pandemia, quando acumulava R$ 10 milhões em dívidas. Em vez de cortar gastos, os sócios decidiram acelerar o crescimento, lançar novos produtos e fortalecer fornecedores. O resultado foi um portfólio com mais de 70 itens, valorizando a chamada “cozinha afetiva”, e uma forte retomada do crescimento.
A produção de cafés 100% arábica é feita com grãos da Serra da Mantiqueira, oriundos de fazendas próprias e de produtores parceiros — um dos diferenciais que garante a qualidade e consistência da marca.
Aposta internacional em meio à tensão comercial
O cenário internacional atual, com tarifas americanas sobre produtos chineses que ultrapassam 145%, representa um desafio. Ainda assim, a Cheirin Bão se mostra preparada: contratou consultorias especializadas para estruturar sua operação de acordo com as normas tributárias dos EUA.
Além disso, a empresa está investindo em branding para conquistar o consumidor americano. O influenciador Tiago Fonseca, com mais de 2 milhões de seguidores, assumiu como diretor criativo da marca, e campanhas de ativação serão feitas em eventos como a Porsche Cup e o podcast de Joel Jota.
A aposta da Cheirin Bão mostra que o café brasileiro pode ir além das fronteiras, mesmo diante de incertezas geopolíticas. A missão agora é provar que o “cheirinho bão” de Minas Gerais também pode conquistar paladares estrangeiros.
Publicado originalmente pela revista Exame
Adaptado para o Blog IFB