Nos últimos anos, medicamentos como Ozempic e Wegovy, baseados em análogos do hormônio GLP-1 (glucagon-like peptide-1), ganharam notoriedade por sua eficácia no controle do diabetes tipo 2 e na promoção da perda de peso. A crescente popularidade desses fármacos impulsionou uma nova categoria de consumidores, despertando o interesse da indústria de suplementos nutricionais em atender às necessidades específicas dessa população.
O GLP-1 é um hormônio naturalmente produzido no intestino, liberado em resposta à ingestão de alimentos. Ele atua de forma multifuncional: estimula a liberação de insulina, reduz a secreção de glucagon, desacelera o esvaziamento gástrico e, dessa forma, promove a saciedade. Esses efeitos combinados explicam a perda de peso associada aos análogos sintéticos de GLP-1. No entanto, ao mesmo tempo em que oferecem benefícios metabólicos, esses medicamentos trazem desafios do ponto de vista nutricional.
Usuários desses medicamentos frequentemente relatam redução significativa do apetite, episódios de náusea, constipação e, em alguns casos, desnutrição leve a moderada. Há também relatos crescentes de perda de massa muscular devido à ingestão calórica e proteica insuficiente. Com isso, surge a demanda por suplementação estratégica que compense essas lacunas nutricionais e auxilie na manutenção da saúde durante o uso contínuo dos medicamentos.
Contudo, vejo que a resposta do setor já começa a aparecer. Em feiras internacionais como a Expo West, observou-se um aumento expressivo de lançamentos voltados especificamente para o público em uso de análogos de GLP-1. Entre os destaques estão suplementos hiperproteicos, fórmulas ricas em fibras prebióticas para melhorar a saúde digestiva, complexos vitamínicos para prevenir deficiências e até produtos que ajudam a modular o apetite de forma equilibrada.
Sob o ponto de vista técnico, entendo que o desafio está em formular produtos que sejam altamente biodisponíveis, de fácil digestão e bem tolerados, mesmo por consumidores com náuseas recorrentes. A escolha de proteínas hidrolisadas, fibras solúveis e vitaminas com baixa irritabilidade gástrica tem se mostrado promissora. Outro aspecto relevante é o formato dos suplementos: pós solúveis, shots líquidos e gomas têm ganhado espaço por sua praticidade e apelo sensorial mais suave.
Por outro lado, há um risco de oportunismo comercial. Com o boom dos medicamentos GLP-1, cresce também o número de marcas lançando produtos sem respaldo científico ou com alegações exageradas. É fundamental que os consumidores e profissionais de saúde avaliem cuidadosamente os rótulos, busquem evidências sobre os ingredientes e considerem sempre o acompanhamento de um nutricionista ou médico.
Em paralelo, cresce o debate sobre o papel dos suplementos como aliados — e não substitutos — de uma alimentação equilibrada. A tendência é clara: a suplementação deixa de ser só um recurso esportivo ou clínico e passa a ocupar um espaço funcional, integrando estratégias de longo prazo para o manejo de condições metabólicas.
O avanço dos tratamentos com GLP-1 abre, portanto, uma nova fronteira para a indústria de suplementos. Mais do que acompanhar uma tendência, trata-se de desenvolver soluções reais para um público que exige suporte nutricional personalizado, seguro e baseado em ciência. O desafio agora está em transformar esse movimento em uma revolução positiva — tanto para a saúde dos consumidores quanto para a responsabilidade do setor.
*Bethânia Vargas é Head de Projetos e Regulatórios na Pronutrition, indústria que desenvolve suplementos, alimentos e bebidas saudáveis e inovadores para diversos segmentos
Fonte: Assessoria