O que vem primeiro: o investimento ou as startups?
Essa pergunta, que remete ao clássico dilema do ovo ou da galinha, é usada por Caroline Takita Levy para ilustrar a complexa realidade enfrentada pelo ecossistema de inovação em sustentabilidade no Brasil. Segundo ela, o mercado de climate techs ainda engatinha no país — seja pela escassez de startups ou pela limitação de recursos disponíveis.
Mas, mais importante do que encontrar uma resposta para essa questão, é agir para transformar o cenário. Foi com essa motivação que Caroline, executiva com mais de 20 anos de trajetória no setor de inovação e sócia da foodtech Liv Up, decidiu criar seu próprio fundo de investimento voltado para climate techs em estágio inicial (early-stage).
O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2025, durante a COP 30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada no estado do Pará.
Fundo com foco em soluções climáticas
Em entrevista concedida ao portal Startups durante o South Summit, realizado em Porto Alegre, Caroline revelou que a tese do fundo será 100% dedicada a empresas de base tecnológica com foco em soluções para o clima. Ela também atuou como moderadora no painel “Key Takeaways From COP 29: Setting the Stage for COP 30”, que aconteceu na manhã de 10 de abril.
Com passagens por gigantes como Nestlé, Danone e Camil, além de experiências em startups como Uber e Liv Up, Caroline é engenheira de alimentos e investidora-anjo desde 2022. Agora, está em busca de uma gestora parceira com expertise em venture capital para dar vida ao fundo que está estruturando.
Uma de suas inspirações é o Sororitê, fundo de investimento criado por Erica Fridman e Jaana Goeggel a partir de uma comunidade de investidoras-anjo. “Elas me ajudaram muito compartilhando o que viveram ao migrarem de anjo para gestoras de VC. Agora, estou em busca de um sócio ou sócia com experiência sólida no mercado de capitais, que possa me ajudar a moldar a tese do fundo”, destaca.
A jornada começou na Amazônia
A decisão de direcionar seus investimentos para o setor climático nasceu após um período sabático de seis meses na Amazônia, em 2021. Essa vivência despertou em Caroline o desejo de unir inovação e sustentabilidade, o que a levou à fundação da eAmazonia, consultoria da qual é atualmente CEO.
A proposta do fundo é ir além das tendências internacionais e buscar soluções para problemas locais que também sejam relevantes globalmente. “Tem muito capital disponível para problemas reais e crescentes como a crise climática. A ideia é focar em dores que movimentam mercados de grande escala”, explica.
Venture studio para startups imaturas
Paralelamente ao fundo, Caroline também pretende lançar um venture studio — uma estrutura que dará suporte a empreendedores com ideias promissoras, mas que ainda não estão prontos para captar investimentos de risco. O objetivo é ampliar o pipeline de startups climáticas no Brasil, oferecendo recursos para que essas soluções sejam validadas e preparadas para o mercado.
“No entanto, só faz sentido ter um studio se houver capital disponível. Por isso, minha prioridade hoje é 100% viabilizar o fundo”, afirma.
O desafio é grande, mas a causa é maior
Caroline reconhece que o contexto atual, com juros elevados e incertezas macroeconômicas, não é o mais convidativo para o venture capital. Ainda assim, reforça a urgência de agir. “O problema climático é real e crescente. Esperar o momento perfeito pode ser o mesmo que nunca começar. E como dizem, maré tranquila nunca fez bom marinheiro”, finaliza.