Quantas mãos constroem um sonho coletivo? Em Jequiá da Praia (AL), ao menos 50 mulheres da Associação Mulheres em Ação (AMAJE) mostram que o número pode ser grande — e poderoso. Elas transformam resíduos da pesca do siri em adubo orgânico e criam artesanato a partir de materiais reciclados, promovendo sustentabilidade e inclusão. A associação surgiu em 2019, inspirada por um encontro de mulheres pescadoras em Pernambuco, e tornou-se realidade em 2022, com o esforço de mulheres como a pescadora Neide e a presidente Eliane Farias. A iniciativa é destaque em uma matéria do G1.
No início, a AMAJE enfrentou obstáculos duros: o machismo e o preconceito. Como o projeto não gerava renda imediata, muitas mulheres foram desestimuladas por seus maridos a continuar. Além disso, o forte cheiro das cascas de siri usadas no adubo gerou apelidos e piadas ofensivas, como “cheirosas”, que levaram várias participantes a desistirem. Apesar disso, com apoio mútuo e persistência, o grupo seguiu em frente. A falta de recursos, como barcos para coleta na lagoa, foi superada graças à colaboração — o marido de Eliane, por exemplo, cedeu seu barco para viabilizar o trabalho.
A virada veio com reconhecimento e apoio institucional. Com suporte técnico da Prefeitura de Jequiá da Praia, as mulheres se inscreveram no Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece e conquistaram o primeiro lugar entre 482 projetos. O prêmio garantiu recursos para compra de equipamentos, como barco, motor, freezer e até placas solares. O adubo “Reflorescer” é produzido por um processo detalhado que começa na coleta das cascas e termina com o produto final embalado para venda, fortalecendo a autonomia financeira das associadas.
Além do adubo, a AMAJE também investe no artesanato sustentável. Materiais como palha de coqueiro, fibra de bananeira, papel e tampas plásticas são transformados em peças criativas, vendidas na sede da associação e em feiras. A artesã Eliana Reis, que capacita outras mulheres, conta que a AMAJE mudou sua vida e lhe devolveu o sentido. Hoje, ela dá oficinas e vê na associação um espaço de alegria, trabalho e resistência.