O México, reconhecido como berço da tequila, enfrenta um desafio significativo em sua indústria de destilados. Até o final de 2023, o país acumulava 525 milhões de litros de tequila em estoque – quase equivalente à produção anual de 599 milhões de litros. Essa quantidade impressionante, envelhecida em barris ou aguardando engarrafamento, reflete o impacto da queda na demanda global e os desafios impostos por um mercado em transformação.
Demanda em declínio e Estoques crescentes
Nos últimos 18 meses, o crescimento exponencial da tequila perdeu força. Após um auge durante a pandemia, o consumo começou a desacelerar, em parte devido ao aumento dos preços e mudanças nos hábitos dos consumidores. Dados do IWSR revelam que, nos EUA, principal mercado consumidor, as vendas de tequila caíram 1,1% nos primeiros sete meses de 2024, contrastando com o crescimento de 17% em 2021.
Além disso, a nova capacidade produtiva de destilarias no México contribuiu para o aumento do estoque. “Muito mais destilado está sendo produzido do que vendido, e os estoques estão começando a se acumular”, comentou Trevor Stirling, analista da Bernstein.
Ameaças comerciais e Impacto econômico
Outro fator preocupante para o setor é a ameaça de tarifas de 25% sobre as exportações mexicanas para os Estados Unidos, mencionada pelo ex-presidente Donald Trump. Esse imposto, caso implementado, afetaria diretamente o setor, já que 80% das exportações mexicanas de tequila têm como destino os EUA.
Ramón González, presidente do Conselho Regulador de Tequila, destacou o impacto potencial dessas tarifas: “Seria um tiro no próprio pé, já que os consumidores americanos teriam que pagar muito mais pela tequila”. Apesar das preocupações, González minimizou a probabilidade de que tais medidas sejam efetivadas, lembrando que ameaças semelhantes feitas no passado não se concretizaram.
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Adaptações do Mercado e Preços do Agave em queda
Para enfrentar a redução na demanda, marcas renomadas como Patrón, da Bacardi, e Casamigos, da Diageo, têm ajustado seus preços nos últimos anos. Ao mesmo tempo, os produtores de tequila se beneficiaram da queda no preço do agave, ingrediente essencial do destilado.
O preço do agave caiu de 30 pesos por quilo para valores entre 6 e 8 pesos em contratos, e até 2 pesos no mercado à vista. Essa redução aliviou os custos de produção, mas também trouxe preocupações sobre possíveis guerras de preços no setor. “Um excesso de oferta combinado com preços baixos pode criar um cenário desafiador para os produtores”, alertou Stirling.
Perspectivas para o Futuro
Apesar dos desafios, o mercado internacional continua sendo um importante pilar para a indústria. Em 2023, dois terços da tequila produzida no México foram exportados, com Espanha e Alemanha surgindo como mercados secundários importantes.
Para 2025, o setor encara incertezas, mas também oportunidades de adaptação e inovação. O crescimento da tequila nos últimos anos mostrou sua força global, e a indústria precisará buscar estratégias para equilibrar oferta e demanda, enquanto navega pelas tensões comerciais e oscilações de consumo.
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Matéria publicada na Folha, adaptada para o Portal Foodbiz