O café, símbolo das manhãs brasileiras e paixão nacional, está se tornando um luxo para muitos consumidores. Em 2024, a bebida teve um aumento de 39,60% em seu preço, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE. Esse salto contribuiu significativamente para a inflação de 4,83% registrada no ano, acima da meta estipulada. Embora questões macroeconômicas, como incertezas fiscais e a pressão cambial, tenham influência, o café apresenta um cenário singular, marcado por desafios na produção e impactos das mudanças climáticas.
Os desafios da produção cafeeira
O setor cafeeiro é historicamente influenciado pelo ciclo de bienalidade, que alterna entre anos de alta e baixa produtividade. Contudo, eventos climáticos extremos têm rompido essa lógica. Secas severas, geadas e chuvas fora de época atingiram os dois maiores produtores mundiais de café — Brasil e Vietnã —, reduzindo drasticamente as safras.
Em 2024, o preço global do café arábica, predominante no mercado, ultrapassou US$ 3,44 por libra, um aumento de mais de 80%. No Brasil, o impacto foi sentido diretamente pelo consumidor: o preço médio de um pacote de 1 kg subiu de R$ 35,09 para R$ 48,57, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Mudanças climáticas e a pior seca em 70 anos
Os impactos das mudanças climáticas têm sido devastadores para a produção. O Brasil, que enfrenta a pior seca em sete décadas, viu sua safra de 2024 ser comprometida por chuvas intensas e fora de época. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção foi estimada em 54,8 milhões de sacas, uma redução de 0,5% em relação a 2023. Esse cenário lembra a crise de 1977, quando uma geada histórica provocou a última grande alta no preço do café.
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Demanda global aquecida e desafios futuros
Apesar da queda na produção, a demanda por café continua a crescer. Países como a China, que dobraram seu consumo na última década, impulsionam o mercado global. Essa pressão entre oferta e demanda levanta questionamentos sobre a sustentabilidade da produção. Especialistas projetam novos aumentos de preço para os próximos anos, impulsionados por incertezas climáticas e o apetite crescente por café em mercados emergentes.
O cenário atual destaca a necessidade de soluções inovadoras e sustentáveis para o setor cafeeiro. A volatilidade dos preços e os desafios climáticos impõem aos produtores e à cadeia de suprimentos a busca por estratégias que garantam a produção e a acessibilidade do café, um patrimônio cultural e econômico do Brasil.
Texto adaptado para o Portal Foodbiz a partir de informações publicadas por Veja.