Após um período de forte expansão durante a pandemia, o comércio eletrônico voltado ao varejo alimentar enfrenta um cenário desafiador no Brasil. A retomada das atividades presenciais e a mudança nos hábitos de consumo resultaram no encerramento das operações de diversas startups no país, como Merqueo, Justo e Mercado Diferente.
Apesar desse movimento, algumas empresas seguem ativas, apostando em modelos de negócio mais sustentáveis e ajustados à nova realidade do consumidor. Um exemplo é a Trela, supermercado online especializado em alimentos saudáveis. “O erro que muitos cometeram foi tentar fazer simplesmente uma versão online do varejo tradicional”, destaca Guilherme Nazareth, CEO da startup.
Com centro de distribuição próprio localizado na Lapa, em São Paulo, a Trela direciona 70% de sua estrutura para câmaras frias, operando com um modelo de entregas just in time. As reposições são realizadas frequentemente em parceria com fornecedores: hortifrúti, frutos do mar e pães são entregues duas vezes ao dia e rapidamente despachados para o cliente final. Já os produtos com maior validade são gerenciados com o apoio de algoritmos que monitoram a demanda e o giro de estoque.
Além da eficiência logística, a empresa aposta em uma curadoria diferenciada de produtos, priorizando itens que muitas vezes passam despercebidos pelos supermercados tradicionais. “O cliente percebe esse valor”, afirma Nazareth. Como resultado, a Trela registrou um crescimento de 12 vezes no volume bruto de mercadoria (GMV) e 8 vezes na receita ao longo do último ano, enquanto o custo de aquisição de clientes (CAC) caiu 70%. Em 2022, a startup recebeu um aporte de US$ 25 milhões em uma rodada série A liderada pelo SoftBank.
Raízs: tecnologia e impacto social como pilares de crescimento
Outra empresa que busca consolidar sua presença no setor é a Raízs, foodtech especializada em alimentos orgânicos. Após enfrentar ciclos desafiadores, a empresa encontrou estabilidade a partir de decisões estratégicas adotadas em 2022. “Já passamos por muitos momentos difíceis, mas hoje não é um deles”, comenta Tomás Abrahão, CEO e fundador da Raízs.
Em 2024, a foodtech alcançou um crescimento de 70% no faturamento anual e um EBITDA três vezes superior à média do varejo alimentar. A ampliação do portfólio foi um dos motores desse avanço: hoje são mais de 2.500 itens, incluindo mercearia, bebidas saudáveis, produtos sem glúten e sem lactose, carnes, suplementos e alimentos plant-based.
A tecnologia é uma aliada fundamental na operação da Raízs. Módulos de inteligência artificial ajudam a prever o abastecimento com produtores, otimizando custos e evitando desperdícios. A plataforma conta com cerca de 120 mil clientes registrados e colabora com aproximadamente 1.500 famílias de agricultores, impactando diretamente mais de 7.500 pessoas em diversas regiões do Brasil.
Além disso, a foodtech desenvolveu tecnologia própria para prever a demanda e entender as preferências dos consumidores, permitindo um planejamento de colheita eficiente junto aos produtores e agrônomos parceiros. A roteirização inteligente das rotas de distribuição também contribui para a redução do desperdício de alimentos, que hoje está em apenas 4%.
“Atualmente vivemos um momento de consolidação. Conseguimos sobreviver bem em um mercado onde outros players, mais capitalizados, não resistiram. Agora temos a oportunidade de conquistar essa clientela”, conclui Abrahão.
Fonte: Startups