Pouco conhecido fora das comunidades produtoras, o chá feito com a flor do café conilon começa a ganhar espaço entre apreciadores de bebidas naturais, chefs de cozinha e entusiastas da gastronomia brasileira. Essa infusão delicada, aromática e cheia de simbolismo representa não apenas um novo sabor, mas também uma oportunidade de valorização da biodiversidade e das práticas sustentáveis no campo.
O que é a flor do café conilon?
O café conilon, amplamente cultivado no Espírito Santo, é uma variedade da espécie Coffea canephora. Sua florada ocorre geralmente entre setembro e dezembro, quando os cafezais se enchem de pequenas flores brancas, que exalam um perfume adocicado e suave — comparado por muitos ao jasmim.
Essas flores, que normalmente caem em poucos dias, passaram a ser colhidas cuidadosamente por alguns produtores para uma nova finalidade: a produção de chá.
Como é feito o chá?
A flor do café conilon é colhida manualmente, em um processo cuidadoso para garantir a preservação da planta. Depois da coleta, as flores são desidratadas em estufas ou ao sol, e em seguida embaladas para infusão.
O preparo é simples: basta colocar as flores secas em água quente (sem ferver), deixar em infusão por alguns minutos e coar. O resultado é uma bebida de cor dourada clara, com aroma floral intenso e sabor suave, levemente adocicado, que lembra mel e camomila.
Estudos revelam o potencial do chá de flor de conilon
Pesquisas recentes conduzidas na fazenda experimental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em São Mateus, demonstraram o potencial do uso da flor do café conilon para produção de chá. A equipe de pesquisadores, liderada pelo professor Fábio Parteli, analisou o aroma, sabor e viabilidade econômica da bebida.
O estudo — ainda em fase inicial — busca aproveitar um nicho artesanal de mercado e já foi compartilhado com a UFRJ, onde foram realizadas análises sensoriais e laboratoriais. Os primeiros resultados foram promissores: a flor apresentou aroma doce e agradável, e boa aceitação em provas de xícara.
A maior dificuldade, segundo os pesquisadores, é o custo de colheita e a ausência de um mercado estruturado. Ainda assim, o Espírito Santo, como segundo maior produtor de café do Brasil, tem grande potencial para investir nesse novo produto.
Sustentabilidade e fortalecimento do agronegócio
O chá de flor de café representa uma alternativa sustentável ao aproveitar partes do cafeeiro que normalmente seriam descartadas. Essa inovação também fortalece o agronegócio local, especialmente entre famílias rurais que vivem da cafeicultura.
Engenheiros agrônomos e produtores como Gleison Oliosi já vislumbram formas de aplicar as descobertas em suas propriedades, integrando ciência, tradição familiar e melhorias genéticas — como no caso da variedade conilon bicudo, que se destacou em produtividade.
O florescer da tradição e da inovação
Mais do que uma tendência gourmet, o chá de flor de café conilon simboliza o encontro entre tradição e inovação. Ele revela um novo jeito de apreciar o café brasileiro — não apenas pela xícara cheia de cafeína, mas também pelas flores que anunciam sua colheita.
Para quem busca novidades aromáticas, deseja explorar ingredientes nativos ou simplesmente valorizar o que brota do nosso solo, essa bebida é um convite para saborear o Brasil com mais delicadeza.
Fonte: G1