Duas das maiores fabricantes suíças de chocolate estão trilhando caminhos opostos em 2025. O fator em comum? A disparada nos preços do cacau, que tem afetado de forma muito distinta a Lindt e a Barry Callebaut.
Enquanto a Lindt viu suas ações valorizarem 29% no ano, a Barry Callebaut amargou uma queda de igual magnitude. A explicação está na estratégia de cada empresa para enfrentar o aumento nos custos da matéria-prima.
A força do posicionamento premium
A Lindt, conhecida por seu chocolate de alta qualidade, conseguiu repassar os aumentos aos consumidores finais sem grandes resistências. A marca foi impulsionada por lançamentos estratégicos como o chocolate “estilo Dubai”, considerado um dos maiores sucessos de produto da história da empresa, segundo analistas do UBS. Com essa combinação de inovação e reputação premium, a Lindt vem conquistando espaço de concorrentes tradicionais como a Mondelez.
Mesmo com novos aumentos de preços previstos para este ano, a expectativa da empresa é que os consumidores continuem priorizando chocolates de maior qualidade, ainda que em menor quantidade — uma tendência já observada em diversos mercados maduros.
Pressão sobre o modelo de negócios da Barry Callebaut
Já a Barry Callebaut, líder mundial na produção de chocolate a granel, está enfrentando obstáculos maiores. Com menos poder de precificação, a empresa depende de grandes clientes industriais como Nestlé e Hershey, que têm reduzido pedidos e buscado alternativas, como diminuir o teor de chocolate em seus produtos.
O cenário tem impactado diretamente as margens da companhia, levando a uma revisão negativa das projeções de vendas e a um aumento do interesse de investidores em posições vendidas (shorts) — um sinal de desconfiança no desempenho futuro da empresa.
Além disso, o ambiente macroeconômico continua desafiador: os preços do cacau seguem em níveis elevados, mesmo após mais do que quadruplicarem entre 2023 e 2024. Com a oferta ainda pressionada, especialmente na África Ocidental, muitos produtores estão segurando estoques à espera de valores ainda maiores.
Futuro incerto — mas com possíveis reviravoltas
Apesar das dificuldades atuais, analistas apontam que o jogo pode virar nos próximos meses. Estimativas de mercado indicam que a Barry Callebaut poderia se recuperar até 31% a partir dos níveis atuais, enquanto a Lindt, que já opera próxima de sua máxima histórica, poderia ter uma leve correção de até 12%.
A diferença de performance reflete não só o momento do mercado, mas também os modelos de negócios distintos: um focado no volume para a indústria e o outro na valorização da marca e do consumidor final.
Com o setor de chocolates atravessando uma fase de transformação forçada pelo cenário climático e econômico, o que está em jogo é mais do que preço: é a capacidade de adaptação.
Essa adaptação foi inspirada na matéria original publicada pela Bloomberg Línea