Nos últimos anos, movimentos de boicote a produtos dos Estados Unidos ganharam força em diversos países, impulsionados pelo aumento das tarifas de importação impostas durante o governo Donald Trump. O que começou como resposta à chamada “guerra tarifária” rapidamente se transformou em um fenômeno global, refletido nas redes sociais, nas prateleiras dos supermercados e até nas escolhas de destinos turísticos.
Boicote como expressão política
Mais do que apenas uma ação de consumo, o boicote tornou-se uma ferramenta de protesto simbólico. Pesquisas mostram que essa prática tem apoio popular em várias regiões do mundo. Na Áustria, por exemplo, mais de 70% da população declarou estar disposta a evitar produtos americanos como forma de demonstrar insatisfação com as políticas externas dos EUA.
Entretanto, muitos consumidores reconhecem que é difícil cortar totalmente os laços com marcas e serviços norte-americanos. Plataformas como Facebook, Amazon e Apple Pay fazem parte do cotidiano e têm forte penetração global, tornando o boicote completo praticamente inviável.
Limites do impacto econômico
Apesar da ampla adesão inicial, o impacto econômico direto dos boicotes costuma ser limitado. Grandes corporações são resilientes, e campanhas de boicote frequentemente perdem força ao longo do tempo, especialmente quando envolvem mudanças de hábitos de consumo. Ainda assim, seu valor simbólico e político é significativo.
Em democracias consolidadas, o boicote funciona como uma forma de engajamento político do consumidor. Ao deixar de consumir um produto, o cidadão envia um recado que pode influenciar posicionamentos institucionais, reputações e até estratégias de mercado de grandes marcas.
Casos emblemáticos pelo mundo
Na Dinamarca, o maior grupo varejista do país, o Salling Group, passou a destacar nas prateleiras os produtos europeus com uma estrela preta, facilitando a escolha de itens que não sejam de origem americana. A iniciativa surgiu após declarações controversas de Trump sobre a Groenlândia, território autônomo dinamarquês.
Na França, Alemanha e Reino Unido, grupos no Facebook organizam boicotes a marcas como Coca-Cola, McDonald’s e Starbucks. A hashtag #BoycottUSA está em alta, e ações criativas, como virar produtos americanos de cabeça para baixo nos supermercados, tornaram-se uma forma silenciosa de protesto.
No Canadá, a reação foi institucionalizada. Governos provinciais retiraram bebidas alcoólicas americanas das prateleiras e lançaram campanhas como “Buy Canadian”. Aplicativos como Maple Scan ajudam consumidores a identificar produtos de origem nacional. O resultado: aumento nas vendas de marcas locais e maior engajamento com a produção doméstica.
Tesla: o símbolo da rejeição
A Tesla, empresa do bilionário Elon Musk, tem sido um dos principais alvos da insatisfação. Considerada próxima ao governo Trump, a marca viu suas vendas caírem drasticamente em alguns mercados europeus, com queda de 45% em janeiro, na comparação ano a ano. Além disso, atos de vandalismo contra veículos da marca foram registrados em cidades como Berlim e Paris. Montadoras locais como Volkswagen e BMW têm se beneficiado desse movimento, ganhando espaço na preferência do consumidor.