Na pequena cidade de Fort Collins, no Colorado (EUA), inovação e sustentabilidade estão fermentando lado a lado com a cerveja. E, curiosamente, uma conversa casual em um jogo infantil acabou dando início a uma mudança significativa na forma como a New Belgium Brewing – uma das principais cervejarias artesanais dos Estados Unidos – aquece sua produção.
De engenheiro a “guardião do clima”
Andrew Collins, engenheiro da New Belgium Brewing, é mais conhecido por seu papel como especialista em sustentabilidade e carbono neutro. Ao longo dos anos, ele se acostumou a receber sugestões e ideias – muitas vezes incompletas – sobre como tornar a produção da cervejaria mais ecológica. Mas uma proposta inusitada, feita durante uma conversa informal, chamou sua atenção: substituir uma das caldeiras movidas a gás natural por uma alternativa elétrica inovadora.
A inovação da AtmosZero
A proposta veio da AtmosZero, uma startup vizinha à cervejaria, que desenvolveu uma caldeira elétrica industrial baseada em tecnologia de bomba de calor. O diferencial? Ela pode produzir vapor de alta temperatura a partir do ar ambiente, sem precisar de dutos adicionais nem reformas complexas na planta industrial.
Esse vapor é essencial na fabricação de alimentos e bebidas – desde o aquecimento de ingredientes até a esterilização de equipamentos. Hoje, caldeiras tradicionais consomem cerca de 8% da energia primária global e emitem o equivalente a 600 usinas a carvão em gases de efeito estufa. A proposta da AtmosZero é atacar esse problema na raiz.
Vantagens do novo modelo
Ao contrário das caldeiras convencionais, que requerem grandes obras e consomem combustíveis fósseis, o equipamento da AtmosZero funciona como um “aquecedor plug and play”. Durante testes no inverno rigoroso do Colorado, a unidade conseguiu produzir vapor a 150 °C mesmo com temperaturas externas de -13 °C.
Com isso, a cervejaria poderá substituir um terço da produção de vapor sem depender de dutos ou redes complexas. E mais: a solução já se mostra financeiramente competitiva, mesmo sem incentivos ambientais – um ponto importante para empresas que buscam reduzir emissões sem comprometer o orçamento.
Impacto ambiental e escalabilidade
O impacto não é pequeno: cerca de 9% das emissões totais da fábrica da New Belgium poderão ser reduzidas com a adoção da caldeira elétrica. Atualmente, 40% da energia da planta já vem de fontes renováveis, e 15% é gerada internamente por meio de painéis solares e biogás da própria produção de cerveja.
A AtmosZero ainda está no início de sua jornada, mas o plano é ousado: multiplicar por cinco a capacidade da fábrica em Loveland e levar a tecnologia a outras indústrias que utilizam vapor – como papel, farmacêutica e alimentos processados.
Um passo além na descarbonização industrial
O CEO da AtmosZero, Addison Stark, afirma que a tecnologia foi criada para ser financeiramente viável mesmo em mercados onde o gás natural ainda é barato. E à medida que as redes elétricas se tornarem mais limpas, a vantagem ambiental e econômica deve crescer.
Assim como carros elétricos e energia solar, as caldeiras elétricas podem ser protagonistas da próxima fase da transição energética – e a indústria de alimentos e bebidas tem tudo para liderar esse movimento.
Fonte: Bloomberg Línea