Na última quarta-feira, o ex-presidente Donald Trump anunciou a duplicação das tarifas sobre aço e alumínio, elevando-as para 50%. A medida, que visa reforçar a proteção à indústria siderúrgica dos Estados Unidos, acendeu o alerta entre os fabricantes de embalagens e empresas do setor alimentício, que temem os impactos em cadeia no custo de produção e, consequentemente, nos preços para o consumidor final.
Durante visita a uma fábrica em Pittsburgh, Trump justificou a decisão como parte de sua estratégia de valorização da produção nacional, em meio à aquisição da US Steel pela japonesa Nippon Steel. Apesar da retórica de proteção à indústria local, diversos representantes do setor produtivo expressaram forte preocupação com os efeitos colaterais da medida.
Efeitos no setor de alimentos e embalagens
A principal crítica veio do Instituto de Fabricantes de Latas (CMI), que afirmou que a elevação tarifária afetará diretamente os preços dos produtos enlatados nos supermercados. “Milhões de famílias americanas dependem de alimentos enlatados. Aumentar as tarifas sobre o aço vai agravar o custo desses produtos, prejudicando consumidores e a indústria local”, afirmou Robert Budway, presidente do CMI.
Empresas como Ball e Crown, importantes fabricantes de embalagens metálicas, já haviam demonstrado preocupação anteriormente, quando as tarifas estavam em 25%. Além das latas, a medida impacta também a produção de tampas, fechos, folhas metálicas e tambores de aço utilizados em larga escala na indústria alimentícia e de bebidas.
Questões logísticas e dependência externa
Outro ponto levantado pelos críticos da medida é a escassez de produção interna de aço especializado para embalagens. Segundo o CMI, cerca de 80% do aço usado na fabricação de latas nos EUA é atualmente importado, em razão da redução drástica da produção local nas últimas décadas. “As usinas domésticas tomaram decisões que inviabilizaram a produção em escala. Hoje, dependemos fortemente de fornecedores estrangeiros”, destacou Budway.
O posicionamento da entidade é claro: a política tarifária deve ser mais estratégica e considerar exceções para parceiros comerciais confiáveis, como o Canadá, ao mesmo tempo em que se mantém firme contra práticas desleais de países como a China, que inundam o mercado com produtos a preços artificiais.
A indústria do alumínio também se manifesta
A Associação do Alumínio dos EUA (AA) reconheceu a intenção do governo de fortalecer a produção nacional, mas alertou que as tarifas, por si só, não garantem o crescimento sustentável do setor. “Precisamos de uma política mais ampla, que inclua acesso a energia barata, estímulo à reciclagem e uma estratégia robusta para expansão da produção”, afirmou Matt Meenan, vice-presidente da AA.
Impactos geopolíticos
A resposta internacional também não demorou. A União Europeia manifestou “profundo pesar” com o aumento das tarifas e estuda medidas de retaliação. Anteriormente, o bloco já havia imposto tarifas de resposta sobre US$ 24 bilhões em produtos americanos, que foram suspensas após negociações — mas que agora podem ser retomadas.
Fonte: Food Dive