Em 2015, Matheus Fell e Luís Felipe Wallauer Ferreira mal tomavam café: um preferia o cappuccino de máquina, o outro só aceitava o passado, com bastante açúcar. Mesmo assim, foi a partir desse cenário improvável que os amigos de infância decidiram abrir uma cafeteria em Teutônia (RS), cidade de pouco mais de 30 mil habitantes. O que começou como uma aposta despretensiosa se transformou em uma das redes mais promissoras do sul do Brasil.
Segundo reportagem publicada pela Exame, a Quiero Café encerrou 2024 com 70 unidades em funcionamento em cinco estados e um faturamento de R$ 195 milhões — alta de 27,8% em relação ao ano anterior, apesar dos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul.
Os planos agora são ainda mais ambiciosos: a meta para 2025 é alcançar R$ 250 milhões em receita, com pelo menos 15 novas inaugurações, foco em São Paulo e a consolidação de um novo modelo de loja voltado para shoppings.
“Foi um ano desafiador, mas conseguimos crescer, validar novos formatos e manter o desempenho das lojas já existentes. Isso mostra a força do modelo”, afirmou Matheus à Exame.
Um café que nasceu da ausência
A ideia nasceu de uma lacuna sentida por Luís Felipe, então advogado em Teutônia. Seus clientes de Porto Alegre perguntavam onde poderiam fazer uma boa reunião ou tomar um café decente — e a resposta era sempre a mesma: “não tem”.
Com zero experiência em café, mas muito desejo de empreender, os dois abriram a primeira unidade apenas três meses após idealizarem o negócio. O plano era simples: se vendessem dois de cada item por dia, conseguiriam pagar as contas. Investiram em um ambiente bonito, acolhedor e com projeto arquitetônico — “nada de cadeira de plástico e piso branco”.
“Nosso sonho era só montar algo legal para a cidade. Um lugar bonito, onde a gente gostaria de estar”, contou Matheus à Exame.
Expansão e fortalecimento
Desde os primeiros meses, clientes de cidades vizinhas começaram a frequentar o local. Pouco tempo depois, os sócios passaram a estudar o modelo de franquias e abriram a segunda loja em Lajeado (RS), considerada “a mãe” da rede. A partir dali, o crescimento foi guiado por uma lógica em espiral, sempre priorizando a proximidade e a capacidade de atender bem os franqueados.
Atualmente, são 13 unidades próprias e o restante operadas por franqueados. Mais de 90% deles enviam relatórios financeiros completos para a franqueadora, que realiza consultorias mensais com base nesses dados.
Versatilidade como diferencial
Um dos segredos do sucesso da Quiero Café é sua versatilidade: as lojas funcionam das 7h30 às 23h, servindo café da manhã, almoço, sobremesas, drinks e janta. O ambiente atrai desde quem busca um espresso com leite até quem quer duas caipirinhas e uma salada com salmão — há famílias que frequentam a loja três vezes ao dia.
Essa variedade é viabilizada por um eficiente sistema de engenharia de cardápio e inteligência de estoque, com insumos que se repetem em diferentes pratos, o que agiliza o giro e reduz custos. A rede ainda conta com uma distribuidora própria, criada em 2019.
Próximos passos: São Paulo, novos formatos e uma loja com torrador
Mesmo tendo nascido no interior, o foco agora é conquistar grandes centros urbanos. A marca inaugurou uma loja em Gramado com torrador próprio e nova proposta de experiência, além de testar formatos menores em shoppings, aeroportos e prédios comerciais — todos agora liberados para franqueados.
A cidade de São Paulo é prioridade: já conta com quatro lojas e em breve terá parte da equipe da franqueadora instalada por lá.
“Queremos levar o DNA da marca, construir relacionamento e participar mais do ecossistema. Não basta fazer call: tem que estar presente fisicamente”, disse Matheus à Exame.
“São Paulo é desafiador. O cliente tem muitas opções, o mercado é competitivo. Mas acreditamos que há espaço para oferecer um ambiente acolhedor, bonito e com boa comida o dia todo.”
Matéria adaptada do Exame