Enquanto o preço do chocolate no Brasil disparou 16,53% no acumulado de 12 meses — quase três vezes a inflação do período, segundo o IBGE — muitas marcas recorreram à redução de cacau nas receitas ou à combinação com ingredientes da moda, como o pistache, cujo consumo tem crescido mais de 70% ao ano no país. Mas a Dengo, marca nacional de chocolates premium, decidiu seguir por um caminho diferente.
Com foco em ingredientes brasileiros e uma cadeia produtiva sustentável, a Dengo mantém o cacau como protagonista de seus produtos, com pelo menos 38% de concentração na maioria das formulações. A marca evita ingredientes importados, como o pistache, e aposta na riqueza da biodiversidade nacional com sabores como maracujá, banana e puxuri — uma noz moscada amazônica com sabor singular.
Uma Páscoa com identidade brasileira
Para a Páscoa de 2025, a Dengo lançou uma linha de produtos com a proposta de tropicalizar a celebração, valorizando ingredientes locais. “Criamos uma Páscoa muito brasileira, com ingredientes produzidos nacionalmente, como um ovo de maracujá com puxuri”, afirma Renata Lamarco, diretora de marketing da empresa.
A estratégia da marca também mira um público mais amplo. Tradicionalmente associada ao segmento de luxo, a campanha de Páscoa buscou quebrar essa percepção, comunicando que os preços estão próximos aos do mercado tradicional, porém com maior qualidade, sem conservantes, aromatizantes ou gordura hidrogenada.
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Crescimento com propósito
Desde sua fundação em 2017 por Guilherme Leal (cofundador da Natura) e Estevan Sartoreli, a Dengo tem se destacado por aliar crescimento ao impacto social. Com uma rede de 220 famílias de produtores parceiros, a empresa remunera acima da média do mercado — em 2023, o valor pago por quilo de cacau foi 107% superior à média.
Essa relação próxima com os produtores garante o abastecimento da matéria-prima, mesmo diante da crise global do cacau. Em 2024, o preço da commodity disparou 200%, impulsionado por fatores climáticos em países da África Ocidental. Embora toda a produção da Dengo seja brasileira, os preços são regulados pelo mercado internacional, gerando pressão nos custos.
Estratégia diante da crise do cacau
Apesar do aumento expressivo nos custos, a Dengo optou por não repassar integralmente esse impacto ao consumidor. A marca focou em ganhos de eficiência operacional, escala e revisão de portfólio, o que permitiu um aumento de 15% no faturamento por loja.
A expansão da rede seguiu em ritmo forte até 2024, com a abertura de 15 novas unidades, totalizando 54 lojas no Brasil e duas em Paris. Para 2025, o plano é desacelerar, com apenas duas novas inaugurações previstas em abril. A meta de longo prazo, no entanto, permanece ambiciosa: chegar a 250 lojas até 2030.
Um modelo que inspira
A trajetória da Dengo mostra como é possível inovar no mercado de alimentos com propósito, valorizando ingredientes locais, investindo na sustentabilidade da cadeia produtiva e, ainda assim, conquistar crescimento. Em tempos de desafios para a indústria, a marca mostra que o diferencial está em unir sabor, impacto positivo e estratégia.
Essa adaptação foi inspirada na matéria original publicada pela Bloomberg Línea