O mercado de alimentos no Brasil, dominado por grandes indústrias, também oferece espaço para marcas regionais que conquistam consumidores com produtos tradicionais e uma distribuição segmentada. Um exemplo desse cenário é a Guaxupé Alimentos, que está retomando suas atividades com foco em doces e laticínios.
O Renascimento da Marca Guaxupé
Conhecido por sua tradição, o nome Guaxupé já foi sinônimo de doce de leite em várias partes do Brasil. Fundada nos anos 1960, a marca chegou a empregar 150 pessoas e conquistou o país com seus produtos. No entanto, após o falecimento de seu fundador, a fábrica entrou em declínio e encerrou suas atividades nos anos 1990.
O renascimento da Guaxupé começou em 2022, liderado por Julio César Ferreira, sobrinho do fundador. O objetivo foi resgatar o doce de leite Guaxupé, mantendo a receita original e focando em uma produção terceirizada com distribuição regional.
“Meu cunhado fundou a marca e a transformou em uma das mais conhecidas do Brasil. Contudo, com a sua morte, a gestão foi comprometida e a fábrica fechou. Agora, estou trazendo a Guaxupé de volta ao mercado, começando pelo doce de leite”, explica Ferreira.
A marca já está presente em 200 pequenos mercados e 10 redes médias, e o faturamento saltou de R$ 200 mil em 2023 para R$ 1,3 milhão em 2024. Esse crescimento foi impulsionado pela inclusão de novos produtos no portfólio, como a linha de águas minerais.
A História da Guaxupé Alimentos
A história da Guaxupé começa em 1965, quando Luiz Paulo Ferraz, cunhado de Julio César Ferreira, fundou uma fábrica em Minas Gerais. O primeiro produto foi a manteiga, mas logo se expandiram para doces, compotas e enlatados.
Nos anos 1980, a Guaxupé se destacou, tornando-se a terceira maior fabricante de extrato de tomate do Brasil, ficando atrás apenas da Sica e Etti. A empresa produzia também goiabada, marmelada, ervilha e milho verde enlatados.
No entanto, em 1984, uma tragédia pessoal afetou profundamente a empresa. O fundador da marca se envolveu em um acidente de carro, no qual perdeu sua irmã e mãe, e nunca se recuperou totalmente. A falta de sucessores preparados para assumir a gestão resultou no fechamento da fábrica nos anos 1990.
Com o fechamento da fábrica, a marca Guaxupé perdeu sua renovação no INPI e foi registrada pela Exportadora Guaxupé, uma gigante comercializadora de café do Brasil. A empresa continuou com a linha de laticínios Fazenda Bela Vista, mas nunca usou a marca para o doce de leite.
Em 2022, Ferreira conseguiu recuperar a licença para produzir sob o nome Guaxupé e deu início ao relançamento da marca.
Modelo de Produção e Distribuição Terceirizada
Devido à falta de capital para reabrir a fábrica, Ferreira optou por um modelo de produção terceirizada. “Eu costumo brincar dizendo que sou uma Nike, porque, assim como a Nike, sou uma das maiores vendedoras de produtos, mas não tenho fábrica própria”, afirma Ferreira.
Atualmente, o doce de leite Guaxupé é produzido por um parceiro que segue a receita original da marca. A linha de produtos também inclui goiabada e queijo árabe chancliche.
Para reduzir riscos, Ferreira criou a marca secundária Natury, que inclui água mineral, mel, cachaça e farinha de milho. “Se algum dia perdemos o direito de usar o nome Guaxupé, temos um plano B”, explica.
Os doces de leite Guaxupé estão sendo vendidos em potes de vidro e plástico, inicialmente em mercados regionais de Minas Gerais e interior de São Paulo. “Estamos presentes nas redes Savegnago, Ikegami e Mineirão, e agora estamos negociando com o Grupo Tonin, ABC e BH”, diz Ferreira.
A estratégia de distribuição em grandes redes começa com produtos de maior rotatividade, como as águas minerais, e depois a linha de doces é expandida. “Cada grupo tem um comprador para cada segmento, e às vezes conseguimos falar com o responsável pelo doce de leite somente após entrarmos com a água”, detalha Ferreira.
Futuro Promissor e Expansão
Em outubro de 2023, a Guaxupé Alimentos iniciou uma nova fase com um faturamento de R$ 200 mil no primeiro trimestre de operação. Em 2024, com a ampliação da distribuição e o aumento das vendas de água mineral, a receita atingiu R$ 1,3 milhão.
A empresa pretende continuar expandindo sua presença em supermercados e, no futuro, investir em marketing regional para fortalecer a marca. “Nosso objetivo é utilizar influenciadores locais e até mesmo publicidade na TV regional para impulsionar as vendas”, afirma Ferreira.
Além disso, a empresa planeja lançar novas linhas de produtos, como massas e temperos sob a marca Natury, além de fortalecer a linha de doces Guaxupé. “A marca foi muito forte no passado e pode voltar a ser uma referência no mercado”, destaca Ferreira.
A aposta da Guaxupé está no crescimento dentro do segmento de alimentos regionais, explorando a memória afetiva do consumidor e adotando uma estratégia comercial focada em redes de médio porte. “O Brasil tem um mercado enorme para marcas fortes em regiões específicas. O futuro da Guaxupé passa por aí”, conclui Ferreira.
Matéria publicada pela Exame