A Liv Up, uma startup de marmitas saudáveis congeladas que cresceu vendendo por canais virtuais, está seguindo o exemplo de muitas marcas no modelo direto ao consumidor (D2C) e acelerando sua expansão no mundo real. Desta vez, com pratos quentinhos.
Depois de instalar geladeiras corporativas e reforçar essa frente com a aquisição da também startup do ramo VYA, a Liv Up inaugurará nas próximas semanas um serviço de delivery de pratos prontos para consumo. Até o final do ano, a foodtech também terá um restaurante com portas abertas.
A Liv Up foi selecionada na edição de 2019 do 100 Startups to Watch. A lista é uma amostra do que o Brasil tem de mais promissor em inovação, com empresas que demonstram potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar indústrias.
A estratégia de crescimento da Liv Up, de 50 m² para 8 mil m²
Victor Santos trabalhava no mercado financeiro e buscava uma alimentação prática, mas saudável. Santos e o colega de faculdade Henrique Castellani lançaram a Liv Up em março de 2016.
A ideia é vender marmitas ultracongeladas e também doces e lanchinhos (snacks), mas que tivessem sabor e saúde. A Liv Up ganhou tração por conta de três processos únicos: seleção de alimentos, estrutura de produção e canais de venda.
A foodtech tem parcerias com mais de 25 famílias de pequenos produtores e afirma que 80% dos seus legumes e vegetais são orgânicos. Em 2019, foram compradas 320 toneladas de matéria-prima por meio das parcerias. A Liv Up investe também na rastreabilidade da cadeia produtiva, mostrando ao consumidor de qual plantação ou fazenda vieram seus alimentos.
O segundo passo foi desenhar uma cozinha feita para escalar – expressão que significa crescer desproporcionalmente aos recursos empregados, um feito essencial para qualquer startup.
“É uma fabricação entre o artesanal e a linha de produção. Temos células flexíveis e responsáveis por praças, como vegetais, proteínas ou sobremesas”, afirma Santos.
Por fim, a Liv Up investiu em canais de venda digitais – por site ou por aplicativo para celular. A comercialização das marmitas congeladas, doces e lanchinhos pelo ambiente virtual permite coletar dados de forma agregada e gerar compreensões importantes para a startup.
A Liv Up entendeu que seus consumidores achavam a tilápia seca, por exemplo. Após uma alteração na cozinha, as vendas do peixe subiram.
Uma pequena cozinha de 50 metros quadrados, no bairro da Vila Madalena (São Paulo), virou cenário para a produção de 45 mil marmitas congeladas por mês no começo do negócio.
O crescimento da Liv Up continuou com os anos. Hoje produz seus alimentos em uma cozinha de 8 mil metros quadrados de área produtiva. A startup comercializa 300 mil refeições por mês.
O ticket médio dos pedidos para entrega em domicílio é de R$ 200, com frequência de compra mensal.
Marmitas em tijolos: restaurantes de portas fechadas e abertas
O primeiro passo da Liv Up no mundo físico veio pela instalação de geladeiras em empresas, modelo chamado de Liv Up Station.
“Trocamos ideias com os clientes e vimos como comer no escritório não era fácil nem saboroso. Implementamos nossas refeições nas empresas por meio de geladeiras, com pagamento por aplicativo e escaneando um QR Code”, diz Santos.
O projeto começou no segundo semestre de 2019 e ganhou mais força após a compra da VYA, uma startup especializada na venda de marmitas congeladas para corporações. A Liv Up tem 75 pontos de venda físicos, contando tanto suas geladeiras próprias quanto as da VYA.
Até 2021, o empreendedor estima que a vertical corporativa corresponda a um quarto do faturamento da Liv Up. Por mais que o tíquete médio seja menor do que o dos pedidos em casa – está em R$ 20 para refeições e em R$ 5 para snacks –, a frequência é diária.
O próximo passo na expansão da Liv Up por meio de tijolos está no serviço de entrega de refeições já prontas para consumo. Nas próximas semanas, a foodtech inaugurará um serviço de delivery com portas fechadas — modelo conhecido como “cozinhas na nuvem”, ou cloud kitchens.
As entregas começarão a ser feitas apenas em São Paulo, com expansão para outros estados prevista para 2021. No aplicativo, aparecerão submarcas da Liv Up. A primeira será a Liv Up Salad Stories, de saladas, com início em março.
No final do ano, será a vez de um restaurante aberto ao público. “A gente pensa muito no digital porque lá encontramos públicos segmentados e nos engajamos com eles. É um passo mais certeiro, diante de recursos limitados”, diz Santos.
“Mas vivemos em um mundo de tijolos e é a melhor forma de ampliar nosso público, especialmente quando o tamanho da operação reduz o custo de captação de dinheiro. O delivery ganha participação de mercado, mas os clientes físicos ainda são maioria e há oportunidade nesse mercado.”
Todos os pedidos continuarão a ser feitos por um único aplicativo, como forma de concentrar a captura de dados e o relacionamento com os clientes. Em paralelo, a Liv Up também planeja linhas de refeições para o público infantil e para famílias (de três a quatro pessoas) neste ano.
Tanta ambição para 2020 foi possível a partir de um investimento de R$ 90 milhões, recebido em 2019. O aporte foi pelo fundo de investimento americano ThornTree Capital Partners (investidor em negócios como a varejista Magazine Luiza e o Banco Inter), com a participação dos fundos Endeavor Catalyst (das startups Cabify, Creditas, Dr. Consulta, Guia Bolso, Méliuz, Rappi), KaszeK (Creditas, Quinto Andar, Loggi e Nubank) e Spectra.
A startup já tinha captado uma rodada série A de R$ 8 milhões, obtido um investimento anjo de R$ 525 mil e coletado R$ 975 mil com sócios e com amigos e familiares.
O total de investimentos na empresa chega a R$ 100 milhões. Uma nova captação não está nos planos da Liv Up em curto e médio prazo. “Estamos crescendo como esperado, com foco em rentabilidade. Precisamos estar confortáveis financeiramente e ver que cada compra gera caixa e sustenta a operação da empresa”, diz Santos.
A Liv Up mais que dobrou seu faturamento em 2019. A meta para este ano é aumentar a porcentagem de crescimento, triplicando o faturamento. Com a tecnologia, até mesmo marmitas podem se tornar um negócio com investimentos milionários.
Com informações do portal Pequenas Empresas Grandes Negócios
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