No oeste da Bahia, um projeto ambicioso promete mudar o rumo da produção de cacau no Brasil — e, quem sabe, do mercado mundial. À frente da iniciativa está o agricultor Moises Schmidt, que está investindo US$ 300 milhões para criar o que poderá ser a maior plantação de cacau do mundo. O empreendimento, que ocupará uma área maior que a ilha de Manhattan, aposta em tecnologia de ponta, agricultura de larga escala e alto rendimento para reposicionar o Brasil como protagonista global no setor.
Reposicionando o Brasil no Cenário Global
Embora o cacau seja originário da América Latina, países da África Ocidental, como Costa do Marfim e Gana, lideram a produção mundial há décadas. No entanto, esses países enfrentam hoje severos desafios: doenças fúngicas, instabilidade climática e práticas agrícolas pouco eficientes. Em 2024, os preços do cacau dispararam, alcançando o recorde de US$ 12.931 por tonelada, evidenciando um desequilíbrio entre oferta e demanda.
Nesse cenário, o Brasil surge como uma alternativa viável e promissora. Para Moises Schmidt e outros produtores nacionais, a atual crise representa uma oportunidade histórica.
Tecnologia e Escala: O Modelo Schmidt
A Schmidt Agricola começou a se preparar para essa transformação em 2019, com foco em práticas agrícolas modernas. A fazenda planejada terá 10 mil hectares — um contraste marcante com as pequenas propriedades africanas, que raramente superam algumas dezenas de hectares.
A estratégia adotada envolve técnicas semelhantes às da produção de grãos: irrigação mecanizada, alta densidade de plantio (1.600 pés por hectare, contra 300 no modelo tradicional), além de manejo eficiente de fertilização e controle de pragas. O resultado? As primeiras áreas já plantadas, com 400 hectares, têm produtividade dez vezes superior à média brasileira, alcançando 3.000 kg/hectare, com metas que ultrapassam os 4.000 kg/ha — frente à média da Costa do Marfim, de apenas 500 kg/ha.
Riscos e Desafios da Monocultura
Apesar do otimismo, especialistas alertam para os riscos envolvidos. O uso intensivo de clones pode aumentar a vulnerabilidade a pragas e doenças, como a temida “vassoura-de-bruxa”, que causou estragos na década de 1980. Além disso, há um debate sobre a qualidade do cacau cultivado a pleno sol, já que os frutos sombreados são considerados superiores em sabor e aroma.
Interesse Internacional e Potencial de Expansão
Grandes empresas do setor já demonstram interesse. Cargill, Barry Callebaut e Mars estão presentes na região, por meio de parcerias e campos experimentais. Luciel Fernandes, da Mars, ressalta que a Bahia oferece condições ideais para o cultivo, com solos férteis, topografia favorável e disponibilidade hídrica.
Se o preço do cacau continuar elevado, o Brasil poderá expandir sua área cultivada para até 500 mil hectares nos próximos dez anos, elevando a produção anual para 1,6 milhão de toneladas — um salto expressivo frente às 200 mil toneladas atuais.
Um Novo Capítulo para o Cacau Brasileiro
O projeto de Moises Schmidt pode marcar o início de uma nova era para o cacau nacional. Mais do que uma plantação, trata-se de uma visão estratégica para retomar o protagonismo de um produto historicamente ligado ao Brasil. Resta acompanhar se o tempo e os investimentos transformarão esse potencial em realidade.
Informações: Agro em Campo