A multinacional anglo-holandesa Unilever, um dos maiores grupos de bens de consumo do mundo, está engrossando a lista de empresas de todos os portes que decidiram apostar no mercado de carnes vegetais no Brasil.
A partir de 17 de outubro, passará a contar com quatro produtos da linha “The Vegetarian Butcher” no país, o 31º a receber as novidades. Conforme antecipou ao Valor, no mercado brasileiro a múlti começará a vender hambúrgueres, nuggets, carne moída e almôndegas produzidos a partir de vegetais inicialmente para o food service.
Idealizados no início dos anos 2000, os produtos da The Vegetarian Butcher têm como base proteína texturizada de soja, óleo de girassol e óleo de coco. A empresa não divulgou projeções de faturamento com a linha, por estar em período de silêncio antes da divulgação de seus resultados trimestrais mais recentes.
No primeiro semestre, a receita global da Unilever foi de € 25,7 bilhões e a companhia registrou lucro de € 3,28 bilhões. Mesmo com os ganhos, a empresa lamentou o baque provocado pela pandemia em seus mercados, e na América Latina o destaque negativo foi o Brasil.
A Unilever comprou a The Vegetarian Butcher, fundada pelo holandês Jaap Korteweg, no fim de 2018. Foi ele o responsável pela idealização da marca e do hambúrguer vegetal que puxou a estreia da linha – em 1998, ano em que Korteweg decidiu se tornar vegetariano, as pesquisas para a criação de um sabor parecido com o de um produto de origem animal, começaram a ganhar corpo. O holandês continua a ter influência sobre os negócios nessa frente e acompanha o desenvolvimento de produtos desde a única planta situada na cidade natal da marca, em Breda.
“Você pega uma empresa [The Vegetarian Butcher] que tem uma excelente ideia e um excelente produto e consegue dar escala – ou seja, acesso dos consumidores. Foi o que a Unilever fez”, diz Ricardo Marques, vice-presidente da múlti no Brasil.
O público-alvo da linha plant-based da Unilever, segundo Marques, são carnívoros e amantes de carne que têm interesse em consumir proteína vegetal. Sob esse guarda-chuva, o foco são aqueles que buscam diminuir o consumo de carne por questões ligadas à sustentabilidade, além de vegetarianos e veganos.
Camille Lau, gerente de marketing da Unilever Food Solutions, explica que o conceito e a tecnologia da marca foram incorporados na Holanda e adaptados no Brasil. “Pretendemos atuar com a venda de porções e outras preparações, como famoso prato feito com carne moída”, disse. A nova linha plant-based da empresa utilizará a capacidade produtiva da parceira Superbom.
No tabuleiro de xadrez que se tornou o lançamento de produtos vegetais no Brasil, um dos maiores mercados consumidores do mundo, a Unilever está definindo seus próximos passos. Entre as concorrentes, as brasileiras Marfrig, Seara e BRF, entre outras grandes empresas, já possuem linhas no segmento. Companhias menores como a Fazenda Futuro, que acaba de reforçar o portfólio com o frango plant-based, também acirram a concorrência na área.
Segundo resultados de uma pesquisa conduzida pelo The Good Food Institute em parceria com o departamento de psicologia da Universidade de Bath, do Reino Unido, o nível de aceitação de carnes vegetais do consumidor brasileiro é elevado. Entrevistas com 1.852 pessoas de 18 a 56 anos e de diferentes classes sociais realizadas entre 10 e 25 de agosto mostrou que 89% provariam carne vegetal, 72% comprariam o produto e mais de 52% substituiriam carnes convencionais por proteínas feitas de plantas com as mesmas características sensoriais, como sabor e textura.
Mas a pesquisa também apontou que o alto custo desses produtos ainda limita as vendas. É nessa frente que a maioria das empresas do ramo trabalha atualmente, uma vez que somente 36,5% das pessoas se mostraram dispostas a pagar mais pelas carnes vegetais.
Fonte: Valor Econômico.