Por que a Geração Z bebe menos? A pergunta tem mobilizado análises que vão muito além dos discursos sobre saúde ou estilos de vida. Segundo o analista Bourcard Nesin, do banco holandês Rabobank, a resposta está em fatores culturais, econômicos e sociais inesperados – e nada tem a ver com o fim da globalização ou com uma nova era de sobriedade radical.
Em reportagem publicada pela revista Exame, Nesin apresenta três conclusões centrais sobre os hábitos etílicos da Gen Z:
- A queda no consumo é real, mas menos drástica do que sugerem as manchetes.
- Saúde não é o principal motivo dessa mudança.
- Com o tempo, essa geração vai beber mais – embora ainda menos que as anteriores.
Menos festas, mais telas (e mais vigilância)
O ponto de partida da análise foi um call da Brown-Forman, dona do whisky Jack Daniel’s, em que o CEO comentou que muitos jovens simplesmente não têm dinheiro para consumir como as gerações anteriores. Mas a falta de renda não explica tudo – afinal, os millennials e a Geração X também foram jovens de bolso vazio e ainda assim investiam em bebidas (ainda que baratas e de gosto questionável).
O Rabobank identificou que, hoje, jovens abaixo dos 30 anos nos EUA gastam cerca de 0,74% da renda com álcool, ante 1,1% há uma década – uma queda de um terço. Apesar disso, relatos virais como o de que a Gen Z consome “87% menos” que os millennials distorcem a realidade. Muitos da Geração Z sequer atingiram a idade legal para consumir álcool, o que torna a comparação frágil.
O fator mais impactante, segundo Nesin, não está nos rótulos ou nos preços, mas nas mudanças no comportamento social causadas pela tecnologia. A disseminação de smartphones e telas entre adolescentes diminuiu as interações sociais presenciais – e, com isso, as ocasiões para beber.
Além disso, a vigilância aumentou. Com celulares e rastreadores, tornou-se mais difícil enganar os pais ou desaparecer em uma festa sem deixar rastro. A consequência? Menos consumo entre os mais jovens, principalmente antes da maioridade.
Diversidade, gênero e novos hábitos
Outro elemento-chave é a mudança demográfica. A Geração Z é mais diversa racialmente e tem uma maior proporção de mulheres jovens com acesso à educação superior e empregos qualificados. E esses grupos, historicamente, consomem menos álcool.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Uso de Drogas e Saúde (NSDUH), mulheres com até 25 anos já são a maioria entre os consumidores de álcool nos EUA. Mas, em média, elas bebem 50% menos do que os homens. Além disso, homens brancos – o grupo historicamente mais consumidor – vêm reduzindo significativamente seu consumo nas últimas décadas.
Juntos, esses fatores ajudam a entender por que a Geração Z apresenta hábitos diferentes. E para o setor de bebidas, esse novo perfil de consumidor é um desafio, mas também uma oportunidade de inovação e inclusão.
Conteúdo inspirado em reportagem publicada pela Exame. Leia o original aqui.