A tradicional rede Casa do Pão de Queijo deu um passo importante em sua tentativa de superar a crise financeira: o plano de recuperação judicial foi aprovado pelos credores em 6 de junho. A medida busca reestruturar uma dívida de R$ 57,5 milhões, concentrada na holding e em 28 lojas próprias localizadas em aeroportos. As 170 franquias da rede, por sua vez, não fazem parte do processo.
O plano estabelece condições distintas para cada classe de credores. Funcionários terão direito a receber até R$ 7 mil à vista. Já fornecedores e pequenas empresas enfrentarão reduções de até 80% sobre os valores devidos, com carência de quase dois anos e parcelamento ao longo de uma década.
Entre os caminhos adotados para cumprir o plano, estão a venda de duas Unidades Produtivas Isoladas (UPIs), que englobam a marca, a indústria e o braço de franquias. A expectativa é que os recursos obtidos com essa transação sejam usados para antecipar os pagamentos aos credores.
A proposta foi aprovada por ampla maioria: 95,65% dos credores trabalhistas, 100% dos pequenos credores e 93% do valor total de créditos da classe de fornecedores e bancos. Ao todo, 114 credores participaram da assembleia.
Há ainda condições diferenciadas para quem apoiar a reestruturação da empresa:
- Fornecedores parceiros: não sofrerão deságio e receberão em até 10 anos, com bônus de 2% sobre as compras;
- Locadores de espaços: terão carência até janeiro de 2026, deságio de 14% e parcelamento em 60 meses;
- Credores financeiros: quem oferecer novas linhas de crédito poderá receber à vista (com deságio de 36%) e terá preferência em caso de venda dos ativos.
De receita familiar à rede nacional
Fundada em 1967 por Mario Carneiro, a Casa do Pão de Queijo nasceu a partir de uma receita familiar da mãe do fundador, Dona Arthêmia. A primeira loja, aberta no centro de São Paulo, vendeu 2 mil pães de queijo logo no primeiro dia.
O sucesso levou à construção da primeira fábrica, à adoção do modelo de franquias e, mais tarde, ao aporte do Banco Pátria, que possibilitou a construção de uma nova unidade em Itupeva (SP). A marca alcançou 700 pontos de venda em 2005 e 1.000 em 2008. Ao longo dos anos, teve entre seus sócios nomes como Banco Standard, Alberto Carneiro e Marco Aurélio Mammana, que em 2012 passaram a controlar 100% da empresa.
Aposta nos aeroportos e os impactos da pandemia
Nos últimos anos, a empresa concentrou esforços na abertura de lojas próprias em aeroportos. Foram investidos R$ 14 milhões para inaugurar 10 unidades em terminais privatizados, com foco nos eventos esportivos internacionais de 2014 e 2016. Porém, com a chegada da pandemia de covid-19, esse plano se mostrou insustentável. Em apenas três meses, o faturamento caiu 97%, e no ano todo, a redução foi de 50%.
As franquias também sentiram os impactos, com várias lojas encerrando as atividades. A fábrica de Itupeva interrompeu operações diversas vezes, prejudicando a produtividade. A ausência de um canal de delivery agravou ainda mais a situação, e a dificuldade em obter crédito bancário levou ao atraso no pagamento de impostos.
Tragédia no Rio Grande do Sul intensifica prejuízos
Além dos efeitos da pandemia, a empresa também foi afetada pelas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024. Com quatro lojas no aeroporto de Porto Alegre, a Casa do Pão de Queijo registrou perdas de quase R$ 1 milhão por mês em vendas e um impacto no Ebitda de cerca de R$ 250 mil mensais.
Quem são os credores
A maior parte da dívida está concentrada na classe quirografária (R$ 55,8 milhões). Pequenas empresas somam R$ 1,3 milhão, e os créditos trabalhistas totalizam R$ 244,3 mil. Já os passivos extraconcursais — não incluídos no processo — somam R$ 53,2 milhões, sendo R$ 28,7 milhões em tributos. Entre os credores bancários estão:
- Banco Itaú: R$ 24 milhões
- Banco Daycoval (leasing): R$ 64,8 mil
- HP Financial Services: R$ 41,3 mil
- Banco Safra: R$ 85,5 mil
Fonte: Exame