Se até o início do ano ainda existiam pessoas que resistiam aos aplicativos de entrega e serviços de delivery, com a pandemia do novo coronavírus o cenário mudou.
Segundo uma pesquisa realizada pelo RankMyApp, depois de dois meses de queda (-5% em janeiro e -9% em fevereiro) os aplicativos de delivery tiveram em março crescimento de 30% no número de downloads. As compras por meio destes apps também cresceram 30%, conforme levantamento do Instituto Locomotiva, publicado pela Agência Brasil.
Outro indicador de sucesso é o faturamento de bares e restaurantes com serviços delivery, que passou de 10% para 30% durante a pandemia. “O delivery já tinha vindo para ficar, com a pandemia se expandiu”, analisa Percival Maricato, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) em São Paulo.
DO REAL PARA O VIRTUAL
O sucesso do delivery nos últimos meses é inegável. Contudo, o aumento nas vendas também trouxe mais desafios. Um exemplo foi o Dia das Mães, quando muitos clientes viram as filas comuns nas portas dos estabelecimentos em anos anteriores se transferirem para o ambiente virtual, com atrasos de horas nas entregas e até itens faltando nos pedidos. O problema foi tão grande que redes como Coco Bambu e Outback tiveram que pedir desculpas aos clientes nas redes sociais.
“O movimento no Dia das Mães foi muito acima do esperado. Alguns restaurantes não conseguiram receber mercadorias encomendadas, ou erraram nas previsões, e então tiveram dificuldades por terem funcionários com contratos suspensos. Também houve falhas nas entregas por aplicativos, visto que o número de motoqueiros foi o mesmo de um dia normal, insuficiente para entregas”, diz Maricato.
Leandro Scalise, CEO do RankMyApp, acrescenta ainda a questão da curva de aprendizado. “Houve uma demanda muito grande. Há o desafio de tecnologia, de logística e de atendimento, que está ocorrendo real time. São três desafios novos. Ao mesmo tempo, os melhores apps levam 24 meses ou mais para se estruturarem”.
Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), concorda. “A pandemia pegou o comerciante de surpresa e demora para ter uma boa estrutura de delivery. Além disso, ao olharmos para os pequenos comerciantes, eles já estão sem dinheiro, sem capital de giro e com dificuldades para o acesso ao crédito, o que dificulta fazer uma boa estrutura de entrega”, diz.
VEIO PARA FICAR
Apesar dos problemas, não há quem negue que o serviço de delivery e os aplicativos de entregas vieram para ficar. Prova disso é a entrada de novas modalidades, estratégia adotada pela Uber Eats, que passou a disponibilizar no mês de abril, além dos restaurantes, farmácias, lojas de conveniência, pet shops e floriculturas no aplicativo.
O presidente da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), Vitor Magnani, acredita no aumento do delivery, passada a pandemia. Contudo, ele alerta para a necessidade de maior digitalização por parte das empresas. “Vamos verificar um aumento da penetração do comércio eletrônico, que aqui é só de 6%, muito aquém de outros países. Vamos ver que quem experimentou o digital vai ter que aprimorar o negócio e o comércio que só atendia de maneira física terá um desafio muito maior, com mudança de hábitos e cultura”, prevê.
BAR DENTRO DE CASA
Com o isolamento social, o bar foi para dentro de casa. Em comparação com 2019, a venda online de bebidas alcoólicas apresentou alta de 93,9%, atingindo faturamento de R$ 77,3 milhões.
Fonte: Compre&Confie
OS NÚMEROS NA PANDEMIA
• 30% foi o quanto aumentaram as compras por meio de aplicativos
• 49% dos consumidores pretendem ampliar as compras por meio de apps depois da pandemia
• 39% estão comprando mais alimentos
Fonte: Instituto Locomotiva
FOODSERVICE
Considerando somente as lojas do setor de alimentação, a primeira semana de maio de 2020, comparada com igual período de 2019, teve:
• +52% número de lojas operando com delivery sobre o total de lojas
• +174,28% nas vendas
• +147,72% nas transações
Fonte: Instituto Foodservice Brasil (IFB)
Informações do jornal Gazeta de S.Paulo.
Foto: reprodução