FoodBiz

Um novo olhar de conexão com o agro

Primeiramente, gostaria de descrever aqui o motivo pelo qual, aos 16 anos, escolhi engenharia de alimentos como minha primeira formação. Fui em uma banca de jornal, comprei um daqueles guias do estudante e comecei a olhar as profissões. Eu sempre fui mais de exatas e lá estava que a engenharia de alimentos era uma coisa muito nova para todo mundo, que não existia ainda, que ninguém sabia do que se tratava, quem contratava esse tipo de profissional e por aí vai. Me lembro de que, quando entrei para a faculdade, a minha turma era a quinta da história desse curso no Brasil.

No mesmo guia havia explicações sobre algumas profissões e na minha cabecinha de 16 anos, de quem estava no segundo ano colegial, quando li a matéria sobre os tomates, me encantei com a importância dessa profissão, que iria resolver o problema da fome no mundo. Simplesmente fascinante.

A matéria explicava, entre outras coisas, sobre o ciclo de uma safra e entresafra de tomate, quando, em vez de deixar apodrecer já em fase muito maduro e cair no chão, é possível processá-lo, congelar a polpa (hoje inclusive acontece assim) e depois essa polpa pode ser usada de várias formas na indústria de alimentos e em diversos outros meios. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de poder processar todo o alimento na safra, guardar e garantir o consumo durante todo o ciclo. Isso acontece com muitos alimentos como a soja, o trigo, as frutas, entre outros.

E olhando hoje, quantas e quantas soluções foram criadas ao longo desses últimos 30 anos? Se eu for descrever o porquê de ter escolhido essa profissão, o cerne de tudo, além das inúmeras possibilidades de transformação dos alimentos, certamente, foi a pretensão de salvar o mundo da fome.

Para prosseguir, vou parafrasear o maior defensor do combate à fome no mundo, Mahatma Gandhi: “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência.” Mas isso é uma outra história! Vamos prosseguir!

Em meio a tantas soluções criadas ao longo dos anos, não existia a consciência de tudo que o agro representa para a cadeia de alimentos e seus impactos a cada novo produto, a cada inovação. Para entender a grandeza da oportunidade que é o agro no Brasil, podemos somar:

5 milhões de propriedades rurais

17 milhões de pessoas que ocupam com o agro

23% PIB

100 US$ bilhões em exportações

Fonte: Mapa, IBGE e Cepea

Ao ganhar consciência e aprender sobre o novo sistema na economia circular, onde as práticas lineares de desenvolvimento de produtos e negócios, pela metodologia Cradle to Cradle, ganham novas práticas para a transformação.

Podemos citar 5 principais práticas para que a nova economia ganhe cada vez mais espaço:

1 – Eficiência vs efetividade, onde menos é mais – menos quantidade e mais qualidade é a nova lei. As práticas de reúso ganham força e espaço.

2 – Olhar todo material como nutrientes, onde tudo saia da terra e volte para a terra. Não tem fora é tudo dentro do planeta.

3 – Estudar de onde vem e para onde vai, considerando os curto e longo prazos. Sempre pergunte: “E depois?”

4 – Toxidade, do que as coisas são feitas e o que ocasionam quando se tornam resíduos ou descartes em aterros.

5 – Valorizar a diversidade, se trata sobre fortalecer e regenerar, em vez de padronizar e produzir em massa

E em todas essas práticas, se faz mais que urgente a conexão do agro com a cadeia produtiva, gerando infinitas oportunidades de novas formas de fazermos negócios.

E por fim, como conectar o foodservice à todas as práticas? Nasce então o Farm To Table, da fazenda direto para mesa, onde operador pode buscar cada vez mais ingredientes de origem de produtores. Os distribuidores e operadores logísticos, estão cada vez mais fazendo o papel de tornar todo esse conceito acessível a mais e mais operadores, e assim a cadeia toda conectada fazendo negócios de forma transformadora.

E você, como tem se conectado ao agro?

Foto: BigStock

 

Ana Paula Vaz é engenheira de alimentos, com especialização em Marketing e Gestão Estratégica de Pessoas, gerente de Marketing da Bidfood Brasil, embaixadora do Capitalismo Consciente e mentora do Movimento Todos a Uma Só Voz.