Assim como todos os segmentos da economia, a indústria de alimentos brasileira passa por uma transformação significativa com a crescente integração da Inteligência Artificial (IA) em diversas etapas de sua cadeia produtiva. Desde a otimização da produção agrícola até a personalização da nutrição, a tecnologia demonstra um potencial enorme para aumentar a eficiência, impulsionar a inovação e garantir a segurança alimentar em um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo.
Claudio Zanão, Presidente Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), avalia que a aplicabilidade de IA na indústria vai muito além do seu uso na automação dos processos. “Estamos falando da capacidade de prever comportamentos de consumo, testar produtos em tempo recorde, criar soluções mais personalizadas e sustentáveis, além de otimizar processos logísticos . Em um cenário global que exige cada vez mais eficiência, sustentabilidade e inovação, a IA surge como uma ferramenta poderosa em toda a cadeia produtiva, desde o campo até a mesa do consumidor”, acredita Zanão.
Para empresas de alimentos à base de grãos, especialmente no Brasil, há redução do desperdício e melhoria na eficiência da cadeia de suprimentos, além de auxiliar na geração de ideias e análise de tendências, identificando sabores, preferências e ingredientes, prevendo interações e aprimorando o valor nutricional. Também desempenha um papel crucial no controle de qualidade e conformidade de segurança e acelera a prototipagem e testes rápidos de novos produtos por meio de simulações e análise de sabor, compreendendo as preferências dos consumidores.
A cientista de alimentos Kantha Shelke, referência internacional em inovação, traz importantes reflexões em artigo publicado no Anuário Abimapi 2025. “Há exemplos positivos, como no Japão, onde a Nestlé usou algoritmos de IA para analisar dados de saúde individuais, hábitos alimentares e preferências por meio do programa Embaixador do Bem-Estar Nestlé. Os consumidores carregavam fotos de suas refeições por meio de um aplicativo e a IA analisava as imagens para fornecer recomendações dietéticas personalizadas”, explica Shelke.
Maurizio Scarpa, Diretor Geral da Barilla no Brasil, afirma que a empresa sempre se preocupou muito com tecnologia e inovação e, em 2017 montou um hub em Londres para análise de dados, e-commerce e inteligência artificial. “Uma das principais funções é a análise de tendência via big data, mídias sociais, comportamento humano, tudo isso para entender as tendências daqui a 10 e 20 anos. Como as pessoas vão se alimentar? Quando entendemos uma tendência atual já estamos atrasados, por isso é tão importante saber. Outra coisa que o hub faz é entender as tendências atuais para o marketing poder trabalhar estrategicamente”, conta. Além disso, um aplicativo desenvolvido pela Barilla para agricultores no Brasil usa fotos para identificar doenças e problemas de nutrição no trigo, utilizando tecnologia que envolve inteligência artificial.
Davi Nogueira, Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Selmi, conta que a indústria tem usado a inteligência artificial para a busca mais rápida de informações, como pesquisas de ingredientes de trabalhos científicos em todo o mundo, para encontrar inovações que atendam às necessidades dos consumidores brasileiros. “A gente avalia o que a gente pode melhorar naquele produto para que ele seja mais bem aceito, melhor consumido, estamos falando em conveniência, em personalização para o mercado brasileiro, considerando sazonalidade e regionalidade, devido à natureza continental do Brasil com diferentes hábitos de consumo”, explica.
Para Zanão, da Abimapi, o Brasil tem capacidade de adaptação e inovação. “Em termos de competitividade global, sabemos que os mercados mais desenvolvidos partem de uma base tecnológica mais consolidada. Mas a nossa vocação para a diversificação de portfólio, a eficiência logística e a criatividade no desenvolvimento de produtos são diferenciais que nos mantêm relevantes. O acesso às tecnologias emergentes exige investimentos, incentivos e estratégias de longo prazo, mas a Abimapi segue competitiva para garantir que a indústria brasileira esteja preparada para competir em um cenário cada vez mais digital e globalizado.”
Sobre a Abimapi
Uma das maiores associações alimentícias do país, a Abimapi representa mais de 90 empresas que detêm cerca de 80% do setor e geram mais de 260 mil empregos diretos. Só no Brasil, responde por um terço do consumo de farinha de trigo. Sua missão é fortalecer e consolidar as categorias de biscoito, macarrão, pão e bolo industrializados nos cenários nacional e internacional.