Depois de 15 meses desde o início da pandemia no Brasil, nos deparamos com as situações mais desafiadoras possíveis. O impacto na saúde dos nossos familiares, amigos e colegas de trabalho, a necessidade de ajustar-nos rapidamente a novas formas de trabalho, a lidar com a pressão psicológica da incerteza do futuro e a dor daqueles que foram severamente impactados pelo vírus, assim como daqueles que tiveram seus negócios impactados pelos efeitos colaterais de tantas medidas que foram tomadas ao longo dos meses.
Porém, quando olhamos além do que conseguimos enxergar na nossa realidade aqui no Brasil e observamos as situações que estão sendo experimentadas em diversos países onde a vacinação já avançou, acredito que podemos confiar em um futuro mais promissor.
Em países da Ásia, alguns da Europa e nos Estados Unidos, a recuperação da economia começa a acelerar à medida que os números de novos casos diminuíram consideravelmente e, com isso, suas populações retomaram uma rotina mais próxima à do período pré-pandemia. Em alguns casos, observamos uma euforia na retomada após tantos meses de restrições e confinamentos, com ingressos esgotados e público recorde para eventos esportivos e artísticos. Uma luz no final de um longo túnel.
Quando falamos do Brasil, mesmo em um cenário em que vemos a evolução da vacinação andando em ritmo mais lento do que o desejado, já vemos alguns sinais de retomada, com parte da população tentando voltar à sua rotina, ainda que preocupada com as medidas de prevenção (ou pelo menos uma grande parte esteja).
Mas qual será este novo ponto de partida? Acredito ser esta a pergunta a ser respondida e isso virá a partir de um olhar bastante cuidadoso do nosso mercado.
Ao mesmo tempo em que temos cadeias de restaurantes bem estruturadas financeiramente, que conseguiram sobreviver aos impactos da pandemia, temos um grande grupo de microempresários que sofreram muito mais. Muitos, infelizmente, sequer conseguirão reabrir suas portas.
Além disso, o consumidor do canal foodservice reaprendeu a cozinhar dentro de casa, muitos por prazer e talvez muitos mais por necessidade. Qual será o novo comportamento desse consumidor na retomada? Voltará com todos os hábitos antigos ou virá com novas demandas, com maior olhar na saudabilidade, na conveniência?
E o que dizer das novas plataformas digitais? Como será essa nova interação entre a cadeia do foodservice e seus consumidores e, por que não dizer, seus fornecedores, formando uma verdadeira “teia” de relacionamento digitalizado?
Pessoalmente, acredito que observaremos uma forte retomada nos próximos meses; porém, considero muito importante que todos tenhamos um olhar atento às mudanças provocadas por este acontecimento sem precedentes na história recente. Todos aprendemos algo com a pandemia e, provavelmente, uma grande parte desse mercado observará mudanças nos comportamentos, que, se identificados rapidamente, poderão levar a uma evolução significativa dos nossos negócios e nossa relação com os consumidores.
Que possamos retomar o mais brevemente possível e que possamos também evoluir e prosperar.
Augusto Lemos é diretor-geral da Cargill Foods na América do Sul
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